Mesclando a sensibilidade do jazz com a tradição da música clássica, Sekine chega à classe de 2019 com um álbum para lá de atual
Por Luiz Athayde
Jazz japonês na área! Bom, o correto seria: cosmopolita. A pianista, cantora, compositora e arranjadora Hiroe Sekine é natural do Japão, radicada há 26 anos nos Estados Unidos e em seu quarto e novíssimo álbum Hiroe’s Spirit, suas influências vão desde a tradicional música clássica à bossa nova – variante brasileira do jazz norte-americano.
Para este novo trabalho, produção assinada por Russel Ferrante, do também jazzístico The Yellow Jackets, e colaboração 12 de músicos, entre o saxofonista Bob Sheppard, o renomado batera conterrâneo Akiro Jimbo e o baixista Abraham Laboriel. São 8 canções onde as nuances são muitas, mas sem deixar de lado a bossa nova; sua explícita zona de conforto. “Pavane pour une infante défunte” já abre o disco com um balanço típico das nossas terras, sem o menor pudor de flertar com o mestre Tom Jobim. A faixa-título lembra levemente qualquer música de Ivan Lins dos anos 1990 para cá; não que tenha sido intencional.
De tão marcantes, as linhas de baixo em “A-me” quase roubam a cena, apesar dos solos de outros instrumentos. “Bevel” volta à bossa, mas com Chase Jackson, Charlie Bisharet, Cameron Stone e Jacob Braun fazendo um lindo contraponto com suas cordas. Em um clima mais smooth, “La Plume” traz novamente o brilho do baixo, seguido por uma bela e decrescente melodia, como se o disco acabasse por ali mesmo.
Como em quase todo álbum de jazz que se preze, há aquela faixa com clima de jam, que por vezes costuma ser uma das melhores, e “Ave Maria” cumpre muito bem esse papel, entrando em embate apenas com “I Hear a Rhapsody”, de longe a faixa que melhor representa a mescla da sensibilidade do jazz com a tradição do clássico. Está tudo ali: o drama, a ação, o suspense.
Falando em sensibilidade, é justamente em “Traumerai” que Sekine deposita toda sua agudeza de espírito, encerrando com maestria no que se propôs; entrando em uma espiral de influências e conseguindo voltar ao ponto inicial.
Às vezes, descrever álbuns de jazz num âmbito geral soa mais como dizer palavras bonitas para faixas que não irão sair dos caminhos tradicionais – intricado, melódico, smooth, etc –, mas em certos casos como o de Hiroe Sekine, há um diferencial; seu espírito, ou, terrenamente dizendo, seu tino para texturas ao contextualizar suas músicas, tãos ricas desde seu primeiro registro sônico.
Ouça Hiroe’s Spirit: