Esquisito-Electronic-Jazz-from-Norway
Por Luiz Athayde
Muito se diz sobre a imensa facilidade que a internet deu aos amantes, simpatizantes e “aleatórios” da música, mas pouco se comenta uma outra verdade: uma quantidade variadíssima de discos são lançados a todo momento. E mesmo com o advento das plataformas digitais, uma quantidade imensurável já caiu no esquecimento ou está fadado a tal. Já outros tantos, dependem de fatores que vão além da divulgação via páginas e posts de Facebook. Ainda: alguns álbuns seminais tem a sorte de bater em ouvidos mais aficionados e assim cair na corrente dos bons sons – com sua devida licença para o uso do termo, Reverendo Massari, obrigado.
O sétimo registro “full” do coletivo jazzista da terra do verdadeiro black metal norueguês Jaga Jazzist é um desses álbuns agraciados com tal efeito. Apesar da quantidade de integrantes que já passaram por ali e do razoável tempo de vida, são apenas 6 álbuns gravados e um punhado de EPs.
Tendo com núcleo os irmãos Lars e Martin Horntveth, a dupla é acompanhada por mais 8 músicos (na verdade, hoje 6), incluindo outra irmã dos caras, Line Horntveth, e Even Ormestad, baixista do A-ha nas horas vagas – Off: impossível não lembrar de sua atuação no Rock in Rio 2015 quase “batendo cabeça” ao sons de altos b-sides do grupo; saudade desse dia apesar do caos originado pela chuva – ou quando tem que se virar nos 30.
A base até pode estar no lado mais intricado do jazz, mas são nas variantes que o grupo se destaca. Nu, Fusion, Progressive, Electronic e o que mais for idenfiticado é válido; embora o álbum não se trate de um jogo de adivinhações de cinco partes. Das muitas viagens proporcionadas, “Big City Music” é, talvez, a que mais simule uma realidade virtu… musical; através de um excelente sistema de som ou com fones de ouvido à altura do seu poderio sonoro. Já “Oban” é aquele clima clássico de jam, mas com olhares no futuro, como se fosse um prelúdio para o novo “statement” das sessões de estúdio ou dos “bora ali tirar um som”.
Se houvesse um encontro mesmo que casual entre Yanni e Cabaret Voltaire, aposto minhas fichas que o resultado seria algo próximo de “Shinkansen”. Tamanha é a excentricidade dessa faixa.
Curiosamente, quanto mais lemos notícias negativas envolvendo europeus e árabes, mais o lado musical é aflorado. Ou, explicando melhor, de alguma maneira o lado bom sempre dá um jeito de aparecer. E uma influência inegável entre inúmeras bandas europeias, inclusive escandinavas, é justamente a música árabe. Distorcido e as vezes até invasivo, “Prungen” coloca um “pino” nessa questão sem deixar fiapos.
Por incrível que pareça, essa é apenas uma fração da rica cena jazzística da Noruega, que já há alguns anos se fundiu com o rock e o heavy metal, produzindo alguns dos álbuns mais seminais lançados naquele pequeno, mas caótico – mentalmente dizendo, dada a sua superlativa necessidade de escape em meio a um alto Índice de Desenvolvimento Humano – país, de bandas como Shining e Needlepoint.
Você precisa ouvir Starfire pela oportunidade de ter uma experiência que ultrapassa os limites da música e adentra um pouco no psicológico norueguês, com seu jeito sonoro de se aproximar das pessoas – também valendo para o black metal, por mais paradoxal que seja –, sem deixar de exibir a placa cultural: “Cuidado: Mantenha Distância”.
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