Músico e produtor cultural foi um dos convidados recentes do Alt Cast, de Maurício Gaia e Zé Antonio Algodoal
Por Luiz Athayde
Uma das discussões mais acaloradas no universo do colecionismo sônico e da audiofilia é qual cor de disco de vinil possui o melhor som. O senso comum indica o preto, enquanto o colorido, sendo o pior.
Há também uma parcela considerável que levanta a bandeira da mídia transparente, por julgá-la pura. Será mesmo?
Em um papo recente com o Maurício Gaia e Zé Antonio Algodoal (ele mesmo, do Pin Ups) no Alt Cast – em tempo: disparado um dos melhores podcasts de música –, Michel Nath, músico e dono da Vinil Brasil, desmitificou vários tópicos acerca desse formato tão querido pelos colecionadores.
Aos 1:02:05, Zé Antonio lança: “É verdade que cor do vinil… é que eu li uma vez que vinil transparente é melhor. Isso procede?”
Visivelmente agradecido pela pergunta, Nath começa: “Eu chamo de ‘as lendas urbanas do vinil’. Essa é uma lenda que eu gosto. Um dia eu estava num show de uma banda que eu gosto muito. No final do show, fui lá trocar ideia no camarim, tal, meus amigos, e tava conversando com o baterista da banda. E o baterista foi categórico comigo. Eu adoro quando a galera é categórica, e eu falo [mentalmente], ‘tá, mas eu tenho propriedade de causa, eu trampo com isso, eu fabrico o bagulho [vinil], eu estudei’. E ele falou: ‘O disco preto é melhor que o disco colorido. […] Mas eu tenho o Dark Side Of The Moon [álbum do Pink Floyd] preto. É uma maravilha, o áudio é foda, masterização, estúdio inglês, olha, é um negócio do outro mundo. Aí eu ponho um amarelo, o áudio tá ruim’.”
É quando ele revela as variáveis em torno do processo da fabricação de um disco: “Aí eu vou falar: é a mesma master? Foi cortado pelo mesmo cortador de acetato? Foi fabricado no mesmo lugar? É o mesmo stamper que fez o disco? Porque lá eu uso o mesmo stamper e eu tenho um disco preto, amarelo e um transparente. […] O plástico, ele fundamentalmente é transparente. […] Você pega um negócio que é translúcido, levissimamente amarelado, joga um alvejante [o mesmo usado em roupas], você vai ter o plástico do vinil que é isso aqui [Nath simula o resultado em um copo d’água]. Nessa cor aqui. Você faz assim, no vinil transparente. Eu vejo Maurício no espelho do outro lado do disco. ISSO é a nossa matéria-prima ORIGINAL pra se fabricar um disco.”
“Então, por que a galera fala que o disco transparente é o melhor? Porque é o mais puro. Quando você coloca pigmento, o que as pessoas têm que entender: pigmento é um agente estranho, que você coloca no disco, apenas com a função de deixar colorido”, acrescenta.
No mesmo fio, o também DJ e mentor do projeto eletrônico/funk SolarSoul não perdeu a oportunidade de alfinetar os críticos de plantão.
“O preto absorve todas as outras cores, absorve sujeira, a máquina pontualmente durante o processo, parte do material fica retido lá dentro e queima, e solta pequenos pontinhos pretinhos que vão sumindo ao longo do tempo…. Aí se você tem um disco laranja, você tem que ter esse disco com pontinho para as pessoas da sala do julgamento do sofá, que não fazem nada, e que tem um disco perfeito, mas que estão preocupadas com aquele pontinho, aquele pontinho vai ser um inferno na sua semana, porque a vida da pessoa acabou… porque elas são entendedoras, elas são fodonas de disco de vinil, e elas têm que ir lá dar opinião, principalmente quando é pra falar mal. Porque elas não entendem que é uma fábrica que tem uma máquina… porque aquilo não é nada. E que se o áudio estiver legal… óbvio, a gente trabalha pra ter o disco com a cor sem a pintinha e tudo mais, mas não vai ser uma pintinha que vai fazer daquele disco… [Em suma] é muito preciosismo num mundo onde tá todo mundo cagado. [O mais importante é que o disco] tem que tocar e soar bem. O resto é fumaça colorida.”
Confira o podcast na íntegra a seguir: