Ao tentar se relacionar com sua geração, este proeminente nome do jazz acabou sobrepondo as barreiras da comunicação
Por Luiz Athayde
Das novas falanges do jazz, uma que certamente merece atenção é a capitaneada pelo cantor, compositor, arranjador e, especialmente, trompetista Theodore Lee Croker; ou apenas Theo Croker – seguido por Michael King (teclados), Eric Wheeler (baixo) e Shekwaga Ode (bateria).
Fruto de um fazendeiro e ativista pelos direitos civis William Henry Croker e da orientadora escolar Alicia Cheatham, Croker viu a luz do dia em 18 de julho de 1985, herdando o talento do seu avô, o trompetista Doc Cheatham, passando de uma simples promessa para estabelecer sua própria marca.
É bem verdade que apesar de suas variantes, o jazz também tem suas limitações. Por isso mesmo, logo o estilo foi agregando novas influências, e logo seria chamado de Jazz Fusion. Herbie Hancock, Stanley Clarke e o necessário Miles Davis são apenas alguns dos vários nomes que inovaram e abrilhantaram este gênero tão requintado.
Distante no tempo, mas nem tanto do espaço se comparado aos medalhões, Star People Nation chega à classe de 2019 com uma máxima: a essência da música negra codificada para os novos tempos. Não por acaso, em recente entrevista para Keith Henry Brown no All About Jazz o músico de 34 anos revela:
“Eu quero fazer minha música se relacionar mais do que apenas com pessoas brancas. Eu quero falar com a minha geração. [E] Minha geração é mais nova.”
Uma das provas está em “Have You Come To Stay”, resultado de sua residência na China, onde se aprofundou em gêneros como R&B, salsa, hip-hop, fusion-rock, blues e naturalmente, a (imensa) cultura local. Flertando com o que há de mais charmoso nos dois mundos (Jazz e R&B), Rose Gold faz as honras com seus belos vocais em “Getaway Gold”. Querendo de uma vez por todas estabelecer uma relação com seus contemporâneos mas, no melhor dos sentidos, sem perder a pose, “Subconscious Flirtations and Titillations” é uma das apostas modernas do disco; entre contratempos, batidas eletrônicas e um clima naturalmente cinemático – digno de dramas sci-fi, diga-se.
Sem perder o fio, “Wide Open” abre com a mesma pegada para logo adentrar no sempre bom clima smooth, seguido de “Portrait of William”. Mais orientada para os dourados anos 1970, “Just Let It Ride” e “Crestfallen” soam tão livres quanto se tivessem sido geradas naquele período.
O álbum também teve célebres participações na cozinha. “The Messenger” conta com o pianista e “criador” do “rockjazz” ELEW (Eric Robert Lewis) e a faixa seguinte, “Alkebulan” – nome original da África –, sintomaticamente com os bateristas Eric Harland e Kassa Overall. Em contínua conexão EUA-África, Croker lança um manisfesto existencialista negro em “Understand Yourself”, sintetizando também sua bagagem musical adquirida ao longo dos anos e encerrando com maestria seu quinto capítulo discográfico, de uma carreira que ainda há muito o que render.
E se depender de Star People Nation, seu diálogo irá sobrepor a barreira das gerações, que muitas vezes é separada pelo tradicionalismo exacerbado entre alguns amantes e simpatizantes do jazz.
Ouça o álbum: