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Rammstein – Zeit

Sucessor do autointitulado de 2019 mantém o alto nível de qualidade e provocação

Por Luiz Athayde

Os alemães do Rammstein já contabilizam quase 30 anos de carreira e mais de 20 passeando pelo mainstream  – embora na sua essência, soem como uma mistura de hard rock e industrial. Ainda assim, é de causar surpresa uma banda fora do eixo EUA-Reino Unido e cantando em alemão, se manter extremamente confortável no topo.

Nesse estilo (e neste idioma), ninguém chegou tão longe quanto eles. E olha que muitos tentaram e ainda tentam, mas tudo é remetido ao que nomes como Ministry, Nine Inch Nails e Marilyn Manson já fizeram. No caso da banda berlinense formada na classe de 1994, ainda houve o plus do aparato teatral – cortesia de Alice Cooper, Kiss – com assinatura própria. Além, claro, dos videoclipes cada vez mais bem produzidos.

Rammstein no backstage. (Foto: Divulgação)

O sucesso foi tão grande que forçou o grupo liderado pelo vocalista Till Lindeman a entrar em um hiato discográfico de dez anos, até voltarem com um poderoso autointitulado álbum em 2019. Pesado como sempre, envolvente como nunca, o registro da volta rendeu giros pelo mundo e efeito pipoca nos canais do Youtube, de gente explicando suas letras e revelando easter eggs  (ou “mensagens escondidas”) nos seus vídeos.

Mantendo esse mesmo nível, Zeit chega como uma nova bomba sonora ainda mais desenvolvida, graças, mais uma vez, ao trabalho de Florian Ammon e Olsen Involtini na produção e mixagem, e Jens Dreesen na masterização.

A mesma se equaliza e muito com os discos da esfera metálica feitos nos últimos cinco ou seis anos. Mas há timbres que se encaixam melhor em determinadas bandas e gêneros. No caso Rammstein, essa parte foi para lá de assertiva.

Praticamente metade do disco originou singles acompanhados de videoclipes, e a dificuldade para nomear o melhor se torna difícil pela uniformidade qualitativa. A abertura se dá de com um Neue Deutsche Härte clássico através da faixa “Armee Der Tristen”; marcial, atmosférica e num crescendo certeiro para chegar ao refrão.

E voltando a falar em singles, a faixa homônima do registro soa mais épica tal qual seu tema: o tempo. “Schwarz” introduz uma bela melodia de piano (uma grata constante aqui), inclusive flertando com o gótico. “Giftig” aparece como a primeira música pesada disco. Sua abordagem é mais árabe, com um andamento basicamente reto característico do industrial alemão.


Outro single vem em seguida e facilmente um dos pontos altos. “Zick Zack” zoa sem precedentes os padrões de beleza estabelecidos, com direito a uma produção videoclíptica sensacional, repleta de exageros. Musicalmente, é o Rammstein mais uma vez no modo clássico, ou seja: em seu melhor.


Na verdade, “Ok” não fica nada atrás, especialmente por parecer que a qualquer momento a banda irá engatar um EBM dos clubes mais dark de Berlim. Conexões inevitáveis com os tempos de Mutter (2001). “Meinen Tranen” faz aquela pisada no freio típica quando um álbum chega à sua metade, mas, ainda assim, trazendo uma aura envolvente oriunda de seu também tradicional flerte cinematográfico.

“Angst” mostra mais um pico no gráfico sonoro. E pelo título (“Angústia”), a sonoridade não poderia ser leve. Essa é outra que apresenta um clipe do qual ‘desenha’ o modus operandi do, traduzindo para o Zeitgeist brasileiro, cidadão de bem controlado pela mídia.

A princípio, “Dicke Titten” soa engraçadinha e com uma letra falando sobre um homem velho solitário, desejando amor de uma mulher. Quando, na verdade, se trata do humano em seu estado animal. Rammstein sendo Rammstein. Pegadinhas. Na “Lugen” há ecos dos seus últimos álbuns só que em tom de desfecho. E realmente seria se não fosse a ainda mais sombria “Adieu”.

Mesmo sendo uma tarefa difícil bater de frente com os hoje clássicos Sehnsucht e Mutter, o oitavo disco cheio do Rammstein possui chances de reluzir dentro do catálogo e como um grande álbum. Só vai depender do quanto o mesmo irá reverberar com o passar do… Tempo (“Zeit”), sendo esse o senhor de tudo, inclusive do mercado.

Ouça Zeit na íntegra a seguir:

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