Ouça “Baby Doncha Know”, primeiro esquenta ‘9th & Walnut’
Por Luiz Athayde
A formação da banda norte-americana de punk rock Descendents, do clássico álbum de estreia Milo Goes To College está pronta para lançar o sucessor de Hypercaffium Spazzinate, de 2016. 9th & Walnut chega no dia 23 de julho via carimbo Epitaph Records nos formatos digital e em vinil de várias cores e gostos.
Mas não se trata apenas de mais um lançamento na discografia da banda de Hermosa Beach, Califórnia. Sua história é marcada por idas e vindas do do icônico vocalista e mascote Milo Aukerman, que sempre deixou claro, inclusive nas letras das músicas que palco é lugar de diversão, e que suas prioridades eram suas atividades científicas – Aukerman é biólogo molecular.
Em 2002 ele estava fora, e o guitarrista Frank Navetta mais o baixista Tony Lombardo se reuniram com o líder Bill Stevenson, que além de comandar as baquetas, é produtor, mas amplamente conhecido por ter integrado a era mais criativa do Black Flag, e liderar o All; e regravaram, no Blasting Room, estúdio de Stevenson em Fort Collins, Colorado, 17 músicas da era embrionária do grupo, ou seja, de 1977 a 1980, que sempre aparecia nos sets dos shows.
“Eles vieram e ficaram comigo em minha casa”, recorda, em exclusiva para a Rolling Stone o baterista sobre as sessões de 2002 com Navetta e Lombardo. “Porque ainda éramos todos melhores amigos; nunca houve nenhum clima ruim na banda. Nós apenas praticamos e praticamos, e colocamos [as músicas] em dia. Tentamos não melhorá-las ou torná-las mais sofisticadas do que eram. Nós tentamos apenas deixá-las como elas realmente eram no passado. Então, no final daquele período de duas semanas, fizemos aquele pequeno show no Stockage, e foi divertido. Fiquei muito orgulhoso desses caras, porque eles estavam fora do circuito, mas os dois realmente fizeram um bom trabalho.”
Bill se refere a um festival de Fort Collins, quando o trio executou aquele mesmo material ao vivo. Ainda segundo Stevenson, ideia era também incluir os vocais de Milo, mas o projeto foi engavetado após o falecimento de Navetta, aos 46 anos – ele era responsável pelas composições mais sérias naquele tempo, devido à sua personalidade reclusa – em 2008, após entrar em coma diabético.
Anos se seguiram e o line-up oficial, que inclui além de Stevenson e Aukerman, o guitarrista Stephen Egerton e o baixista Karl Alvarez caíram na estrada, ao mesmo tempo que aquelas gravações iam tomando forma.
Na chegada do lockdown Steve mandou as faixas de 2002 para Milo, que inseriu os vocais em sua casa em Delaware e as mandou de volta para serem mixadas no Blasting Room. O resultado é um trabalho de mais de 40 anos que começou a se desenvolver há 19 e pelos “acasos do destino” virá a público com a tecnologia de 2021 e com a mesma alegria dos primeiros anos do grupo.
“Durante esse período da Covid, é um bom momento para lançar este álbum e permitir que as pessoas curtam e sem divirtam um pouco com ele, e então voltamos à nossa programação regular, por assim dizer (risos)”.
A faixa escolhida como aperitivo do álbum de título tirado da nona rua da cidade homônima californiana, onde o baterista morava, é uma composição extremamente ressentida do saudoso Navetta, “Baby Doncha Know”, que fala de uma mulher que não aceita que envelheceu.
“Você está ficando mais velha e você sempre tenta parecer jovem / Mas baby, você já deu o que tinha que dar… E eu realmente cansei de você / E eu realmente te odeio.”
Aukerman reflete sobre aqueles tempos citando o ex-companheiro de banda:
“É a música de Frank, e grande parte da música de Frank, especialmente durante aquele período, era meio que impregnada de um sentimento amargo” […] “Então isso aparece em ‘Baby Doncha Know’. É uma letra meio áspera. Acho que na época meu eu de 19 anos estava tipo, ‘Oh, isso é punk’, eu realmente gostei pelo fato de que era tão a sua cara, mas olhando para trás, eu penso, ‘Uau, aquele cara era muito amargo sobre as coisas.”
“Éramos todos, em níveis diferentes, apenas estranhos. Bill e eu não éramos muito populares em nossas escolas e a gente meio que tinha o nosso pequeno grupo com o qual a gente se reunia, mas em retrospecto, Frank era o mais estranho de todos nós”.
Independente do teor da música, ela na verdade é apenas uma pequena parte de uma grande amizade que se confunde com a linha do tempo dos velhos (pop) punk americanos, como o baterista finaliza relembrando:
“Eu queria que [Frank] estivesse aqui para curtir isso, e espero que seus irmãos e irmãs e todos se divirtam, que traga boas lembranças para todos.” […] “Frank e Tony me salvaram de ser um garotinho solitário e miserável, e eu nunca vou esquecer isso [e] Milo também, mais tarde. Eu teria sido apenas uma criança solitária e miserável.”
Ouça abaixo: