Trio bielorrusso volta mais dançante como nunca; synthpop
Por Luiz Athayde
Quem poderia imaginar que três caras da Bielorrússia, a última ditadura da Europa, tomariam de assalto o mundo com um subgênero da new wave que não possui um histórico comum no mainstream. E mais: fazendo isso bem. Muito bem.
Molchat Doma vem da capital, Minsk, e foi formado ontem, em 2017, por Yegor Shkutko (vocais), Roman Komogortsev (guitarra e sintetizadores) e Pavel Kozlov (baixo). Chegaram como se não quisessem nada com os álbuns С крыш наших домов (Dos Telhados de Nossas Casas, naquele mesmo ano, e o aclamadoЭтажи (Pavimentos), em 2018.
O som, uma mescla de post-punk, synthpop e minimal wave que pegou em cheio, especialmente por não soar ora dark, ora mais como uma banda new wave típica dos anos 80, incluindo toda a atmosfera daqueles tempos.
Para a classe de 2020 o trio trouxe exatamente o que se esperava de um álbum das “casas silenciosas” (fazendo conexão traduzida com o nome da banda), mas sem perder o processo evolutivo; Monument. O pós-punk está ali, intacto, mas eles se permitiram trazer um pouco mais de balanço para as pistas de dança.
Que diga a faixa de abertura, “Утонуть” (Utonut/ Afogar), digna de qualquer festa que se preze. Synthpop dos grossos, direto do começo dos anos 80.
Desde que anunciaram o novo álbum, os bielorrussos foram destrinchando o mesmo, através de singles e seus respectivos vídeos. Um deles – por sinal um dos grandes momentos do disco – é “Дискотека” (Discoteque/Discoteca), envolta por uma certa aura New Order dos tempos de Power, Corruption & Lies. Fantástica.
Outras que não poderiam ficar de fora são “Удалил Твой Номер” (Udalil Tvoy Nomer/Excluí seu número). Tão densa quanto qualquer composição de Jean Michel Jarre daquela década que você já sabe, esta faixa cativa de imediato pela densidade e sua pegada extremamente melódica, bem com “Любить и Выполнять ” (Lubit I Vypolnyat/Para Amar e Cuidar), que encerra o registro.
Do lado mais reto, temos “Ответа Нет” (Otveta Net/Sem Resposta) e a empolgante “Звёзды” (Zvezdy/Estrelas), que segundo o grupo, é “sobre arte, amor e amor pela arte que cura corações. Um caminho pelas estrelas dedicado ao sol.”
Só daí percebe-se que este não é um caso da “síndrome do segundo disco”, pelo contrário, Monument é “O” álbum de uma banda que não para de evoluir e, ainda assim, aproveita seu momento.
Se por um lado há o hype por terem alcançado ouvidos improváveis, por outro, o Molchat Doma é uma grato exemplo de um nome que chegou lá e tem tudo para se manter, mesmo após a (ótima) enxurrada de grupos influenciados por Ian Curtis e cia. Pedrada.
Ouça Monument na íntegra:
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