Inspirado registro de estreia pode ser a abertura de novos horizontes para o grupo veneciano
Por Luiz Athayde
O ano de 2019 já se prepara para seu desfecho e os lançamentos sônicos parecem estarem longe de cessar, da mesma maneira que a dificuldade para a realização do tão sonhado primeiro registro, seja no formato que for – incluindo o virtual.
É notório que várias cidades pelo interior do Brasil já ostentam seu próprio circuito de bandas e shows, incluindo até mesmo nomes grandes da esfera rock/heavy metal em festivais, alguns organizados no melhor esquema “faça você mesmo”.
É o caso de Nova Venécia, cidade pra lá de quente (e sem saída para o mar) do norte do Espírito Santo, tão pouco a realidade de uma possível promessa chamada Genius Of Sugarcane.
Em fase fetal, a formação da banda data de 2018 por Estevão Massucatti (guitarra/vocal), Luis Alfredo (guitarra) e Rodrigo Gaspar (bateria); o baixista Bruno Rodrigues foi o último a ser recrutado para a falange que ainda contava com a tecladista Raiane Capelini, recém-saída do grupo.
Assim sendo, acabaram de soltar o EP de estreia Preludes From New Times, lançado naturalmente via carimbo independente nos formatos digitais, mas não de maneira dispersa: o registro teve produção assinada por Adriano Scaramussa, antes conhecido por ser guitarrista/vocalista da lendária banda thrash Siecrist e hoje pavimentando seu nome como um proeminente produtor.
Mas nem só de produção vive uma banda. Nas três faixas que se seguem, o grupo conseguiu extrair as melhores porções mágicas do heavy/doom de orientação NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal). “Cthulhu Is Coming” soa como se o ás da guitarra Yngwie Malmsteen estivesse passado uma discreta temporada em estúdio com o velho Tiamat, mas sob supervisão do Witchfinder General; tamanha a pegada voltada para estes clássicos.
“Maldição Atômica” traz um título que cairia muito bem se estivessem nos anos 80, e só não soa brega por que sabe-se lá o que os líderes mundiais estão preparando para um futuro próximo. Já “Mantra”, encerra o registro com a esparada cartada lisérgica mezzo Pink Floyd, com aquela nítida sede de criar algo próprio, especialmente pelo grupo poder se valer do salvo-conduto do tempo – algo que nem todas as bandas conseguem aproveitar.
A nota baixa se dá apenas pela péssima arte de capa, que incita nada menos inúmeros adjetivos negativos. Em geral, bandas mais voltadas para o “retro” thrash metal são as que lançam mão desse tipo de arte “pré-escolar” para reverenciar, de maneira explicitamente tosca, uma era em que o rudimentar não era o status quo, e sim que havia de disponível.
E não é o caso do grupo veneciano, ao menos na parte visual. Duvidosos gostos à parte o fato é que musicalmente (e o que realmente importa) Genius Of Sugarcane fez uma estreia digna de respeito, e também aquele gosto de “poderia ser um disco cheio” ou ter mais 2, 3 músicas, já que se trata de um material extremamente honesto, bem feito, e perfeitamente condizente com o que se espera de um estilo arrastado e com riffs de forçar o pescoço instantaneamente.
Ouça Preludes From New Times no Spotify:
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