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Whitelands – Night​-​bound Eyes Are Blind To The Day

Debut da banda londrina prova que a nova safra shoegazer há muito o que prover

Por Luiz Athayde

Em algum momento, escrevendo alguma resenha, de alguma banda/projeto, eu agradeci aos céus pelos anos 80 estarem longe de sair de moda. Agora, essas mesmas mãos precisam se levantar novamente, mas pela década de 90.

Na verdade, pelo que realmente interessa aqui: rock alternativo; shoegaze, dreampop, noise, (a velha escola) do emo. Tudo bem que essas variantes já se esboçavam antes, mas é nesse período que tomou forma.

E, nos dias de hoje, nunca se viram tantas bandas boas, realmente inspiradas. Vide o Whitelands, de Londres. O núcleo criativo surgiu com o guitarrista/vocalista Etienne Quartey-Papafio e o baterista Jagun Meseorisa ; músicos ganeses crescidos em Londres que se conheceram pela internet.

Whitelands (Foto: Divulgação/Press)

“Nos conhecemos por meio do Snapchat da minha ex-namorada”, disse Etienne na biografia da banda.

Ele segue: “Um dia, eu o vi tocando bateria e perguntei se ele queria entrar para a minha banda, e ele disse que sim. Ensaiamos algumas músicas e, pouco tempo depois, fizemos uma apresentação no DIY Space de Londres. Conseguimos nos entrosar muito rapidamente, o que é ótimo, pois é difícil encontrar membros de banda que queiram ficar.”

A era embrionária tem marco zero no campus Whitelands, da Universidade de Roehampton. Foi lá, quando ambos tinham 16 anos, onde apresentaram um repertório formado por covers acústicos. Aliás, a alcunha faz referência ao lugar (“terras brancas”) e ao gênero musical em questão, predominantemente branco.

O line-up se completa com o guitarrista Michael Adelaja e a baixista Vanessa Goviden. Dali, as nuvens cinzentas foram o limite para uma chuva de pistas que culminaram no aguardado álbum de estreia, Night​-​bound Eyes Are Blind To The Day, recém-carimbado pela Sonic Cathedral.

Não é de causar surpresa que nove entre dez bandas de shoegaze tenham o Slowdive como estrela-guia. O Whitelands até se encaixa nesse quesito, no entanto, o quarteto não deixa de beber na esfera Midwest emo, como American Football e Sunny Day Real Estate, ou mesmo no pop nostálgico do Wild Nothing.

Como resultado parcial, oito faixas ora esvoaçantes, ora diretas, mas sobretudo melodiosas. “Setting Sun” mergulha fundo no (que se convencionou a ser chamado de) indie rock. Dançante e climática.

Já “The Prophet & I” introduz um groove para desembocar em algo que se assemelha ao que o Ride vem fazendo desde seu retorno, especialmente nos vocais. Inclusive, que refrão.

“Cheer” por sua vez, mostra o lado mais melancólico da banda (e também do estilo), com vozes distantes em meio a uma cozinha estilo garagem, mas muito viajante.

“Tell Me About It” é uma das faixas que mais se conectam com o que fez o Slowdive ser o que é. Só daí não é preciso dizer muita coisa. Apenas viajar para atestar ser o ponto alto do álbum. Fantástica.


E tome fuzz em “How It Feels”, outra grande faixa moldada no quase sempre cinzento clima londrino. Pegada bem pra frente, como se feita para incendiar o público nos shows. “Chosen Light” indica seguir a mesma linha, embora haja um aceno inconsciente para formações obscuras do começo dos anos 2000.

Mais um clima estilo “Rachel Goswell + Neil Halstead” (ambos da dita estrela-guia) é sentido em “Born In Understanding”. É aquele tipo de música que induz o ouvinte a se deixar levar pela atmosfera.

“Now Here’s The Weather” encerra soando ainda mais hipnotizante, como pede a cartilha do gênero, e com um certo ar de tristeza. Afinal, trata-se da última faixa, dos últimos respingos antes do sol reaparecer. E neste caso, sol não é uma coisa boa.

O nível destes jovens shoegazers é tão alto e notável que recentemente o grupo figurou o ato de abertura da turnê britânica do Slowdive. Além de já ostentarem resenhas elogiadas em veículos tradicionais, incluindo a New Music Express.

No caso do Class of Sounds, o papel segue intacto: de indicações sônicas. Portanto, o mínimo que dá para dizer, é: disco sensacional, gerado de forma intencional para manter esse tipo de som cada vez mais em evidência. E ouça até dizer chega, porque a viagem é garantida.

No Bandcamp, ou a seguir, via Spotify:

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