Um dos grandes álbuns australianos da década de 80 e tão pouco conhecido por esses lados… até agora
Por Luiz Athayde
Divagar sobre The Triffids aqui é o mesmo que querer indicar o óbvio, algo como falar de Jesus Não Tem Dentes no País do Banguelas, do Titãs, no que diz respeito a importância da obra e nível de conhecimento do grande público.
Born Sandy Devotional é o registro número 2 da discografia desta banda Aussie e passa longe da tal síndrome do segundo álbum. Na verdade, é considerado um dos melhores álbuns australianos da década de 80 por muitos especialistas.
Agora, por que não chegou no Brasil, sabe-se lá. Cria de Perth da classe de 78, a banda foi capitaneada pelos irmãos David e Robert McComb, vocais/guitarras e teclados e violinos respectivamente; acompanhados por Evil Lee (guitarra), Martyn Casey (baixo), Jill Birt (vocais, teclados) e Alsy MacDonald (bateria) para a criação do petardo em questão.
Àquela altura, o grupo gozava de certo reconhecimento graças ao seu primeiro cartão de visitas sônico, Treeless Plain, de 1983, se apresentando com frequência no circuito europeu de clubes e festivais. E foi nesse meio tempo que, em Londres, conheceram Gil Norton, que possuía Echo & The Bunnymen nas credenciais, e ali mesmo, no Mark Angelo Studios, gravaram e produziram Born Sandy Devotional.
A satisfação foi imediata, embora não pudessem imaginar o estrondoso sucesso que fariam a seguir.
“Quando terminamos Born Sandy Devotional”, eu sabia que era a melhor coisa que a gente tinha feito, não havia dúvidas sobre isso”, disse a voz principal do grupo.
De fato, era. Elo perdido entre The Byrds e The Waterboys – nunca esquecer de Bob Dylan, praticamente uma unanimidade entre molecada pós-punk dos anos 1980 –, Born… transita sem maiores percepções entre o jangle, o folk e o pop, com aquela característica polidez das produções da época.
Para representar o álbum, o seminal single “Wide Open Road”, canção digna das fantásticas programações da Rádio Antena 1 e Tribuna FM; isso aí mesmo: canção no melhor estilo “fim de tarde” em algum litoral da vida.
“Ok, mas qual a novidade aí? Por que eu preciso ouvir esse disco?”
Você precisa ouvir Born Sandy Devotional justamente pelo absurdo que é uma banda dessa não ter alcançado o Brasil.
Embora aqui o que realmente fez efeito foram as bandas com um background mais punk, enquanto que as falanges folk rock ou ainda mais sessentistas, como The Stems e The Go-Betweens, sequer avistaram Terra Brasilis.
Born Info Devotional:
+ O título do album foi extraído da faixa homônima que ficou de fora do registro, inspirada em uma garota chamada Sandy, mas a belíssima capa induz ao duplo sentido, já que “sand” quer dizer “areia” em português.
+ Longe dos temas políticos das bandas da época, no segundo registro, as letras giram em torno de temas pessoais, como revelado por David McComb:
“As composições foram mais autobiográficas do que qualquer coisa feita anteriormente. Eu me senti próximo do tema. Eu me achei seguindo a ideia de fidelidade como uma completa fé-consumada, para te dar algo ou alguma direção.”
+ O nome da banda foi tirado do conto ‘The Day of the Triffids’, de John Wyndham.
+ Antes de se chamarem The Triffids, o grupo assinou entre 1976 e 1978 como Blök Musik e Logic – apenas por um dia!
Ouça Born Sandy Devotional (recheado de faixas bônus) no Spotify.