Clássico australiano obrigatório em qualquer playlist garage/jangle pop que se preze
Por Luiz Athayde
Realmente não cabe no gibi a quantidade de bandas que acabaram justo no momento que começavam a despontar. The Stems é um desses casos; teve uma carreira gradativa com lançamentos de singles até chegar ao clássico e ao mesmo tempo, ao menos por esses lados, obscuro At First Sight Violets Are Blue, em 1987.
Como é sabido por todos os aficionados em sons dos anos 80, nem tudo foi dark, mas tudo é da wave, inclusive o power e o jangle pop, subgênero que a banda Aussie de Perth dominava bem.
A gênese se deu em 1983 quando o vocalista/guitarrista Dom Mariani (então no The Go-Starts)foi apresentado ao multi-instrumentista Richard Lane (falecido esse ano), que estava interessado em umas aulinhas de guitarra. Isso depois de ver a banda de Mariani em ação. O papo rendeu e acabaram evoluindo para uma banda, tendo Gary Chambers na bateria e John Shuttleworth como último integrante recrutado, para o baixo.
A ideia já estava formada: reviver a grosso modo a onda garageira dos anos 60, mas com o modus operandi da vigente década. Nomes como The Easy Beats, The Chocolate Watch Band, The Strandells e Electric Primes são alguns de uma vasta galeria de influências.
O show de estreia foi em 1984 como banda de abertura de dois correligionários daquele período; The Saints e o The Triffids, que também foi devidamente indicado aqui.
Também foi naquele mesmo ano que eles entraram em estúdio para registrar as primeiras composições, os singles “Make You Mine”/“She’s A Monster” e “Tears Me in Two”. E é agora que começa o voo: em uma espécie de timing perfeito, os caras fizeram seu primeiro show em Sydney juntamente como Painters and Dockers, bem na época em que a cena punk/garage local estava fervilhando.
Só para você ter uma ideia, Midnight Oil, V. Spy V. Spy e Hoodoo Gurus são de lá, inclusive este último dominou a parada independente australiana com o single “Like Wow – Wipeout!”, seguido dos Stems com seu single de estreia. Nada mal.
Daí em diante foi turnê e atividades promocionais afins, mas faltava o disco cheio, aquele 12 polegadas para ouvir “de cabo a rabo”. Até que, em janeiro de 1987 At First Sight Violets Are Blue vem ao mundo com 12 pedradas prontas para acertar a cabeça, ou melhor, ouvidos do rock mais direto e com cara de festa no colégio.
A essa altura a formação se consolidava, até segunda instância, com Julian Matthews no baixo e David Shaw na bateria.
Estava tudo as mil maravilhas, com a 1ª posição na parada alternativa australiana, número 34 nas paradas mainstream do país, críticas mais que favoráveis e ótimas vendas, endossadas por apresentações em programas de TV e até single (“At First Sight”) garantindo lugar na trilha do então vindouro filme O Jovem Einstein, do diretor Yahoo Serious.
Mas, como o sucesso também tem um lado amaldiçoado, a banda se separa em outubro, 9 meses depois de soltar o álbum na praça. E quem conta mais é Dom:
“Não fiquei muito feliz com a forma como as coisas estavam indo no final do The Stems. Ficamos muito grandes, e há os problemas corriqueiros que acontecem com isso. As pessoas tendem a se separar, há conflitos internos, egos enlouquecendo e a má gestão foi provavelmente o principal fator da separação dos Stems.”
Matthews não disse nada diferente: “No final, foi um esgotamento total. Quando a banda acabou, todos nós já estávamos fartos. Qualquer um de nós poderia ter desistido a qualquer momento. Também havia essa atração de fazer outras coisas fora da banda.”
Bom, o fato é que, apesar de terem implodido, deu tempo de lançar um dos discos mais importantes do rock australiano. At First Sight Violets Are Blue é cheio de energia do início ao fim, como “Sad Girl” e a empolgante “Running Around”.
E mesmo quando esboçam algum “interlúdio”, se é que dá para exagerar, eles atacam de pop. Vide a grudenta “For Always”, de longe uma das canções janglin’ mais legais de todos os tempos.
É bem verdade que nem todos os candidatos a medalhões australianos chegaram com facilidade em Terra Brasilis, e é por isso mesmo que você precisa ouvir o primeirão do The Stems.
Ouça o álbum completo no Spotify.