Um dos discos mais legais de jazz rock não veio dos grandes centros europeus
Por Luiz Athayde
Saindo do eletrônico minimalista do Television Set para aquele jazz navegante entre as águas do rock progressivo nortista; os “Presidentes da República” finlandeses; Tasavallan Presidentti.
Como boa parte do cenário sônico daquele país, a brigada formada na classe de 1969 pelo herói da guitarra Jukka Tolonen, Vesa Aaltonen (bateria), Juhani Aaltonen (flauta e saxofone), Måns Groundstroem (baixo) e o inglês – distinção importante – Frank Robson (vocais) editaram o autointitulado álbum de estreia logo naquele ano.
Mas o disco mal vê a luz do dia e Juhani, descontente com a gravadora, pula fora do posto, dando lugar a Pekka Pöyry. Na sequência, em agosto de 1970, o grupo faz sua primeira aparição nos palcos, e logo no renomado festival local Ruisrock, em Turku, sudoeste da Finlândia.
No mesmo ano figuram como banda de apoio do camarada Pekka Streng (26/04/1948 – 11/04/1975), no álbum Magneettimiehen Kuolema, o que não deixou de ser um aquecimento para o que viria a seguir: mais um registro autointitulado; ou, para evitar confusões, II.
Mas nem tudo foram flores. Gravado na Suécia, o disco era para ter saído em 70, mas por conta do desinteresse do então agente da EMI Bob Azzam, aos 44 do segundo tempo, Tasavallan Presidentti II só saiu em 1971 pela Columbia, e pior: foi um fiasco, graças a sua péssima divulgação. Coisas de gravadora…
Vendo, ou melhor, ouvindo meio século depois, é de causar espanto como um registro deste quilate recebeu tanto desprezo, especialmente se alinharmos com outros lançamentos correligionários.
À exceção do Soft Machine, que já se encontrava imerso no free jazz – ‘Fourth’ beira o seminal –, e o sui generis King Crimson, Genesis, Can e Yes ainda não estavam em seus momentos mais, digamos, intricados.
Tasavallan Presidentti II é jazz gelado, erudito ‘negão’ com ambientações que mais parecem uma tranquila, mas corriqueira caminhada na floresta. E nem por isso a potência das guitarras de Jukka e a pressão exercida na escala Vesa ficam de lado. Em suma, é rock, e progressivo dos bons.
Os presidentes finlandeses deixaram um legado inestimável neste paradoxo gerado entre o restrito e o explorável que é o prog. Tanto que voltaram 32 anos depois de hiato para mais apresentações e registros ao vivo e de estúdio, mas aí é outra história. Antes de começar a dissecar a obra desta instituição ‘Suomi’ local, você precisa ouvir II.
Tasavallan Info:
+ O nome da banda foi tirado de um jornal.
+ A última apresentação dos finlandeses nos anos 70 foi ao lado dos seus “rivais” Wigwam.
+ No ínterim do retorno do grupo, Jukka Tolonen foi preso por agressão e delitos relacionados às drogas. Mas na prisão o músico se converteu ao cristianismo e logo em seguida, em novembro de 2009, saiu da prisão.
Ouça Tasavallan Presidentti II no Spotify: