Era a vez dos arranjos mais elaborados darem lugar a composições que englobassem um público maior
Por Luiz Athayde
Hoje, mais um álbum dos seminais escoceses do Simple Minds faz aniversário. Sparkle in the Rain começou a “brilhar” na classe de 1984 após um árduo trabalho criativo, que envolveu a necessidade de mudanças sonoras e estéticas.
Sem mencionar a formação: o registro marca a efetivação de Mel Gaynor na bateria – tendo em vista que ele já vinha colaborando com o grupo desde o álbum anterior, New Gold Dream (81/82/83/84), de 1982.
Os arranjos ornamentados de mote new wave abriram espaço no perímetro sônico da banda para flertes mais rock.
“É muito diferente de New Gold Dream, tanto em termos de som quanto de material. O último foi muito suave, muito polido. Este álbum tem um pouco mais de sujeira”, pontuou Gaynor.
Em contrapartida, o visual se mostrava mais limpo, já que “tudo o que tinha para dizer, estaria na música”, lembrou o vocalista Jim Kerr. “Em lugares como esse, 50.000 pessoas, simplesmente não há espaço para sutileza, e não há necessidade disso”, completou.
No entanto, essa mudança não ocorreu simplesmente do nada. Pelo contrário. A amizade com o U2, fez toda a diferença. O primeiro encontro ocorreu no festival Rock Werchter na Bélgica.
“Nós vimos muito de nós mesmos neles e vice-versa, […] nós temos essa coisa de sermos influenciados por eles, mas eles são igualmente influenciados por nós. Pode ser em um sentido muito mais sutil, na dinâmica ou em alguns dos sons”, declarou Kerr.
Essa resposta também serviu aos que insistiam em dizer que eles se configuravam apenas como uma banda que se juntava ao tal “novo rock”, liderado pela banda de Bono.
Naturalmente, as conexões continuaram no estúdio. Steve Lillywhite, responsável pela produção dos álbuns clássicos War (1982), do U2, e The Crossing (1983), do Big Country, assinou Sparkle in the Rain. Uma trinca celta para ninguém botar defeito.
As gravações se dividiram entre os estúdios Monnow Valley, em País de Gales, e o The Town House em Londres, e durou de setembro a outubro de 1983. Tudo começou dos esboços feitos pelo guitarrista e força motriz Charlie Burchill, e o tecladista Michaek MacNeill, que posteriormente sofreram mudanças drásticas, até pelo fato de Gaynor estar totalmente integrado ao grupo.
Mas, essa unidade dentro da banda, no que diz respeito ao processo de composição, foi positivamente forçada pelo produtor. A exemplo dele ter pressionado Kerr a escrever as letras o mais rápido possível, para não perder o timing da parte instrumental. Lillywhite comentou:
“Nos discos anteriores, as partes de todos não tinham muita semelhança entre si, […] Mick estaria tocando assim, Charlie estaria tocando assado, então Jim entrava e cantava algo completamente diferente do que os outros dois estavam fazendo. Considerando que agora acho que Jim está pegando algumas das melodias da guitarra e dos teclados, que ele não usava, o que a torna mais como uma música.”
Trabalhar em um álbum, além de dinheiro, demanda tempo e paciência. E essa foi uma das necessidades do grupo, que por vezes se encontrava tenso e disperso, em função da meticulosidade de Lillywhite ao tratar as músicas. Percebendo isso, o produtor muitas vezes pedia para o pessoal sair de cena para que ele pudesse trabalhar sozinho.
E valeu a pena. Parte do resultado se amplificou com “Waterfront”, “Speed Your Love to Me” e “Up on the Catwalk”; todos singles de sucesso, editados entre novembro de 1983 e março de 1984.
Inclusive a crítica foi favorável à renovação do Simple Minds. O AllMusic por exemplo, chegou a ser poético:
“As batidas do sintetizador pulsam sobre os acordes new wave das guitarras de Charlie Burchill e as linhas de baixo… As vibrações do piano são impactantes e as composições de Kerr prosperam na celebridade e na graça decrescente que coincide com isso.”
Nas paradas de vendas, o disco foi muito bem, obrigado: 2ª posição nos Países Baixos e na Suécia; e medalha de ouro na Nova Zelândia e Reino Unido.
No âmbito dos licenciamentos, Sparkle in the Rain ganhou lançamento mundial via mega carimbo Virgin Records. As únicas versões lançadas no Brasil foram em cassete e vinil (1987), e uma reedição, também no formato 12 polegadas (1989).
Sparkle in the Info:
+ O título provisório do álbum chegou a ser ‘Quiet Night of the White Hot Day’
+ “Waterfront” é uma homenagem à Glasgow, cidade natal da banda.