Banda ianque passa longe do genérico, ainda que suas influências oitentistas sejam latentes
Por Luiz Athayde
Smiths, Cure, Sisters, Echo… O tanto de gente surgindo sob essas constelações do pós-punk não cabe gibi. Especialmente nos últimos dez anos.
O fenômeno é global. Embora ganhe quem seja “sorteado” pela “boa vontade” dos algoritmos, mesmo para os caçadores de bons sons – caso do Class of Sounds. E nesse emaranhado de lançamentos, a classe de 2024 foi agraciada com o novo álbum autointitulado do Sculpture Club, carimbado pela Born Losers Records.
Graças, sim, porque estamos vivendo um período extremamente fértil nessa esfera, inclusive no âmbito da urgência.
Sua formação tem marco zero em Salt Lake City, no estado de Utah (hoje, radicada em Dallas, no Texas), e tem como figura central o vocalista e instrumentista Chaz Costello. Se pensou Choir Boy, acertou, porém, suas credenciais também incluem trabalhos com Human Leatherr e Baby Ghosts.
Pelo clube da escultura, este configura o terceiro disco cheio. E também, o melhor; tanto na produção quanto nas composições. O que já é esperado em qualquer banda que se preze.
No entanto, trata-se de uma discografia que já começou bem. A Place to Stand veio em 2016; new wave com sabor punk. Na verdade, o contrário… enquanto em 2021 foi a vez de Worth, que de certa forma pavimentou o caminho para este registro. Basta ouvir “Twirl for Me”, que encerra o play anterior. Nada mais é que a ponte perfeita para “Impatient”.
É também onde o medo (como se ele existisse) de colocar Robert Smith como máxima se esvai, a exemplo de “Cursed of Hexed” e a cinematográfica “Drive Too Fast”.
Contudo, o ponto alto está na faixa seguinte. Sabe aquela música que vale um álbum inteiro? Então: “Never Have I Ever”. Replay aqui é brincadeira. Nem por isso, o que se segue é morno. Pelo contrário, “Hide and Seek” empolga ao trazer a dinâmica típica de uma canção pop orientada pelo punk. “Used Too” figura o momento balada, sutilmente ecoada pelo indie rock dos anos 90.
Diferente de “If I Was a Ghost”, por endossar a faceta janglin dos norte-americanos. Tão voltada para o The Smiths que só faltou simular o vocal; aqui, mais para Andrew Eldritch (The Sisters of Mercy) do que para Morrissey.
A sequência é por “Running Low”; pegada ao vivo, reta, simplesmente perfeita para os palcos. “Old Moon” pisa no freio para ser uma das apostas como hit. Já “November” faz o encerramento de forma curta, mas escancarada, mostrando que não existiria Sculpture Club se não fosse pelo The Cure.
Ainda assim, por mais estranho que pareça, a palavra “plágio” passa com uma certa distância, uma vez que o registro imprime a década de 80 com o frescor da juventude sônica – em todos os sentidos – de hoje. Impossível ouvir somente uma vez.
Na íntegra: Bandcamp / Spotify.