Duo ianque voltou com uma nova explosão de pós-punk e synthwave infundida por sintetizadores
Por Luiz Athayde
New wave? Tem. Pós-punk? Com certeza. Trilha sonora pop de longas de ação? Não tenha dúvidas. Sob domínio completo de sintetizadores, apoiados por guitarras distorcidas, andamentos acelerados e refrãos nas alturas.
Pode ser que veio à cabeça, sei lá, Wang Chung, Huey Lewis, Michael Cretu ou Peter Gabriel. E é isso mesmo e mais um pouco que você irá encontrar em Born in Fire, novo álbum do Sacred Skin.
De alguma maneira, o fato dos camaradas, Brian DaMert e Brian Tarney serem de Los Angeles só intensifica a atmosfera de nostalgia deste registro de 12 faixas – embora ‘torpedos’ também caibam aqui.
A dupla é nova, nascida na pandêmica classe de 2020, mas com olhares fixos nos anos 1980 e visão periférica nos 90. Sua estreia veio em 2022 com o explosivo The Decline of Pleasure.
Curiosamente, é um disco que soa como se feito entre 1984 e 1985. Já este, cobre inconscientemente 86, 87 e 88 em termos de timbre e arranjos que aliás, todos feitos usando a fórmula do pop; para pegar o ouvinte no primeiro instante.
Contudo, eles não deixam de se alinhar ao que vem sendo feito atualmente. “Waiting” abre como uma composição na linha do canadense ACTORS. Empolgante, sim, porém viajante, principalmente se tocada em uma pista de dança. Mas isso é só o começo… “Runaway” vem na mesma esteira, com mais camadas de sintetizadores. Se não se empolgar com ela, apenas espere pelo refrão.
Daí surgem “Show Your Love” e a fantástica “Call It Off”, dois verdadeiros desfilibradores sônicos, impedindo qualquer ser vivo de ficar parado. A diferença é que a primeira, mesmo com todo o groove, vai pelo lado melódico, ou melhor, Depeche Mode – qualquer conexão com “Higher Love” e o próprio álbum Songs of Faith and Devotion, está longe de ser uma mera coincidência.
Já a segunda, faz uma ode ao balanço de titãs como Harold Faltermeyer (Um Tira da Pesada é brincadeira aqui) e The Jacksons. O tempero a mais nos vocais é de Vanessa Rae Robinson.
Emulando o início de um filme de horror thrash, “On The Ice” faz o interlúdio para “Too Hard To Find”; synthpop como se fazia antigamente.
Agora, que dizer de “Surrender”? Simplesmente feita sob medida para fãs de filmes policiais. Nada por acaso, seu videoclipe traz imagens do maravilhoso To Live and Die in L.A. (Viver e Morrer em Los Angeles), de 1985; uma espécie de Miami Vice mais hardcore.
Em “Breaking The Waves”, a máxima consiste em acalmar os ânimos com uma faixa litorânea estilo fim de tarde. A faixa-título serve como mais um clima de suspense antes de “Paranoid”, a mais darkwave do álbum. “Lights”, por sua vez, tem aquela pegada outrun do synthwave. Grudenta, pra variar.
O play encerra com um embate de influências que passam principalmente por Talk Talk e A Flock of Seagulls. Melhor, só se o crescendo e o solo de guitarra de “Static Blue” durassem ainda mais.
Mas quem bom que existe a opção ‘ligar repetição’, já que é exatamente o que este disco instiga. Se a fórmula da nostalgia ainda funciona, é graças a atos como Sacred Skin.
Ouça Born in Fire na íntegra via Bandcamp, ou a seguir.