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Real Lies – Lad Ash

Duo londrino faz um passeio melodioso por várias camadas da música eletrônica

Por Luiz Athayde

Uma das características mais marcantes da música eletrônica feita no fim dos anos 80 e começo de 90 é sua capacidade de envolver o ouvinte pela sua atmosfera. Independente de ser dançante ou não – embora quase sempre, seja!

Um dos ases da mistura de subgêneros como synthpop, house, trance e os “chills” da vida é, certamente, o 808 State, de Manchester. Mas existe um duo londrino que há uns bons anos vem balançando pistas de dança britânicas e europeias: Real Lies.

Real Lies (Foto: Divulgação/Press)

Formado por na classe de 2009 por Kevin Kharas e Patrick King, o primeiro disco, Real Life, saiu somente em 2015, após uma sucessão de singles. E esse ano eles voltaram com o para lá de inspirado Lad Ash.

A produção é assinada pelo duo juntamente com o DJ Tom Demac. Já a mixagem conta com o trabalho conjunto de Nathan Boddy (James Blake, Gary Numan, Shame) e Oli Wright. O som nítido e por vezes reluzente que se ouve no play traz os créditos de Matt Colton (Alien Sex Fiend, The Creatures, Husky Rescue) na masterização.

Metade do novo trabalho, tanto antes, quanto depois de seu lançamento, teve faixas lançadas com videoclipe. Inclusive, os dois primeiros cartões de visitas foram devidamente compartilhados aqui no Class Of Sounds.

“An Oral History Of My First Kiss” chegou de sola e tudo com seus elementos atmosféricos em meio a um alternative R&B, e ainda trazendo o brilho das vozes angelicais da cantora australiana Zoee. Em “Dream On”, o mote foi a pista de dança, sob orientação house/alternative dance, algo muito bem usado pelo New Order, diga-se.

A faixa de abertura se dá com “Ethos”, denotando a intacta marca spoken word. Mas a melhor parte está nas camadas. Se trata de uma música, assim como praticamente todo o disco, visual. Em outras palavras, viagem garantida. O prisma da house music volta a ser seguido na “Boss Trick” e discorre quase balearic. Aquele tipo de som que te impede de ficar parado.

“Late Arcades” traz a participação de Johnny White (Quango, The Rollercoaster Project), apresentando sutis linhas de baixo no corpo da composição que, cá entre nós, nos faz ter certeza que esses caras também são afeiçoados ao Pink Floyd. “Thameslink Tryst” segue o caminho etéreo, como uma espécie de interlúdio, enquanto “Dolphin Junction” se mescla entre o experimental – conexões notáveis com C.J. Bolland – e o hiptnótico, mas sobretudo com muita melodia. Grande faixa.

Em “All Good Dogs” os ingleses baixam a bola (e a temperatura) mais uma vez para adentrarem no universo mais introspectivo do synthpop. Não há o que dizer, exceto pelo fato que, a esta altura, o álbum simplesmente te dominou. “Since I” segue urbana e melancólica, mesmo acelerando seu andamento e mostrando nuances como feixes de luz de carros pela madrugada. “The Carousel” revela um lado mais experimental da dupla, um esboço krautrock na sua introdução.


Intencional ou não, a cereja do bolo foi antecipada com “Your Guiding Hand”. O clima e o peso soam como uma sessão de hipnose em um clube de Londres sem hora para acabar. Minha primeira aposta nos sets ao vivo do duo. “DiCaprio” encerra sem o Leo, mas com grossas camadas de sintetizadores em mais uma abordagem ambient. Nomes aleatórios como Hammock, John Carpenter e M83 podem surgir do nada.

Mais que um excelente disco, Lad Ash é um passeio pelas variáveis eletrônicas sem deixar o lado acessível de escanteio. E essa aura de melancolia pós-festa, a quase zero graus, é o que instiga a ouvir vezes seguidas. Aliás, faça isso logo abaixo, no Spotify.

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