Praticamente marcando uma fase de transição, banda de Manchester começava explorar seu lado mais eletrônico
Por Luiz Athayde
Em 1986, o New Order já se encontrava no quarto disco de carreira. O mesmo foi gravado nos estúdios Jam (Londres), Amazon (Liverpool) e Windmill (Dublin, Irlanda). A produção de Brotherhood é da própria banda, e veio de uma sequência sólida realizada em seu álbum anterior, Low-Life, de 1985. Ainda que contasse com mais experimentos eletrônicos rudimentares se compararmos com os álbuns subsequentes.
Mas, dali saiu um sucesso: o single “Bizarre Love Triangle”; lançado em 3 de novembro daquele ano, seguido pelo esquenta “State of the Nation”, de 15 de setembro.
O batera e sempre boa praça, Stephen Morris, teceu alguns comentários a respeito da época: “Foi algo meio esquizofrênico que estávamos tentando fazer com os sintetizadores e as guitarras, mas que não funcionou muito bem.”
Em entrevista concedida à Option em 1987, Morris descreveu o final de “Every Little Counts” dizendo que soa como uma agulha de vinil pulando faixa. “É semelhante ao final de ‘A Day in the Life’ ” dos Beatles. E completa: “O que a gente devia ter feito era criar uma versão que parecesse que uma fita estava sendo mastigada”.
Apesar das esquisitices, o álbum rendeu boas críticas, como no Los Angeles Times, que disse que o New Order “faz grooves atmosféricos com mais requinte do que qualquer rockeiro contemporâneo”. Já o AllMusic ficou em cima do muro. “Para melhor ou pior, o New Order não tem mais nada para provar”.
Por fim, o Uncut fez uma análise mais profunda, observando uma “crescente tensão entre a beleza frequente da música e da autoconsciência do norte da banda”, concluindo: “Este era o New Order se tornando New Order e se alguém tinha o direito de não ser o Joy Division, certamente eram eles”.
Das negativas, o hilário comentário de A.V. Josh Modell, do Club, chamando Brotherhood de “um grande anônimo do catálogo, que é um pouco menor do que o seu enorme single”, se referindo a “Bizarre Love Triangle”.
Algumas excelentes posições nas paradas, como primeiríssimo lugar na parada independente, 9º lugar no Reino Unido (geral), 15º na Austrália, 22º posição na Nova Zelândia, 50º lugar nos álbuns mais vendidos da Europa e número 117 na Billboard 200 dos Estados Unidos.
Na esfera de versões e licenciamentos, LP e CD (sim, CD) no Reino Unido, Canadá e Japão via carimbo Factory Records. No Brasil, primeira prensagem em LP e Cassete em 1987 e em CD no ano de 1990; todos pela Factory. Já pela London Records, em 1996 o grupo licenciou um repress remasterizado em CD no país.
Existem ainda outras edições especiais lançadas posteriormente em 2008 e 2010 pela London e a Rhino, expert em relançamentos caprichados. No caso, edição dupla com uma capa diferente contendo o álbum em questão mais remixes assinados por John Potoker, Tall Paul e Shep Pettibone, de músicas como “True Faith”, “Bizarre Love Triangle”, “Blue Monday” e outras.
Brotherhood foi um álbum que agradou apenas os fãs mais afoitos, do nível colecionador. Mas carimbou seu lugar na história por marcar uma era transitiva dentro grupo, onde a música eletrônica começava a tomar forma, tanto internamente quanto nas pistas de dança; alcançando seu apogeu entre o desfecho dos anos 1980 e meados da década de 90.
Ainda:
+ A arte da capa tem assinatura de Peter Saville, que havia feito nada menos que ‘Unknown Pleasures’ e ‘Closer’, do Joy Division, e mostra uma folha de liga de titânio-zinco.
+ ‘Bizarre Love Triangle’ foi o primeiro single a fazer sucesso nos Estados Unidos.