Controverso artista norte-americano voltou à forma com um registro digno de seus maiores clássicos
Por Luiz Athayde
Brian Hugh Warner figura um dos recentes exemplos de que o que se chama por ‘cultura do cancelamento’, está ruindo. Nem todas as acusações de abuso sexual – vindas especialmente da atriz norte-americana Eva Rachel Wood, com quem se relacionou de 2007 a 2010 – eclipsaram o interesse do público pela obra de sua pessoa jurídica, Marilyn Manson.
No entanto, não foi um ressurgimento do nada. Nesse ínterim, ele foi chutado da Lima Vista Recordings, porém, foi a titã da esfera metálica, Nuclear Blast Records, quem viu novas possibilidades em sua carreira. E, neste caso, significou olhar para trás, analisar o que fez de melhor (e mais bem-sucedido) na discografia e trazer para a classe de 2024. O que realmente interessa.
Até porque, verdade seja dita: o último álbum composto por canções fortes, enérgicas foi The Golden Age of Grotesque, de 2003. De lá para cá, houveram bons e até ótimos momentos – ‘Born Villain’ (2012) e ‘The Pale Emperor’ (2015) estão aí para provar –, mas muitos a desejar também. Vide os aquosos, Eat Me (2007) e The High End of Low (2009); além dos últimos, Heaven Upside Down (2017) e We Are Chaos (2020).
A repaginada deu tão certo que até sua aparência rejuvenesceu. Às vezes, parece que estamos vendo o Manson dos anos 90… em estética, mas sobretudo sonoridade. Sim, One Assassination Under God – Chapter 1, seu novíssimo disco de estúdio.
Tudo bem que os singles passearam nos ouvidos dos fãs antigos como doce na boca de criança. “As Sick As The Secrets Within” tomou de assalto quem ainda estava descrente com a recuperação sônica do artista ao revelar uma aura genuinamente sombria. Aí, na outra ponta do laço, eis que surge “Raise The Red Flag” e te faz olhar para Holy Wood (In the Shadow of the Valley of Death), editado em 2000. O terceiro single a vir à tona foi “Sacrilegious”. Este, para não restar dúvidas de que Manson está em forma; blues industrial, pegada clássica.
Durante todo o registro, há nuances familiares, mas que não soam como cópias do passado. Por outro lado, a sonoridade moderna é a estrela-guia de um trabalho envolto a passagens góticas. Como a explosiva faixa-título; e a subsequente, “No Funeral Without Applause” (remetendo a sua versão de “Sweet Dreams”).
Os picos rockeiros se encontram na estrondosa “Nod If You Understand” e no trevoso-radiofônico, “Meet Me In Purgatory”, enquanto as conexões industriais/eletrônicas se devem a “Death Is Not A Costume”. Esta, inconscientemente correligionária ao Paradise Lost era Symbol of Life (2003). A semi acústica, “Sacrifice Of The Mass” faz o papel do ‘é isso, até a parte dois’.
Talvez pela massiva influência de uma gravadora europeia, essa abordagem gothic metal soou extremamente natural. Ouvir One Assassination Under God – Chapter 1 é interessante também por notar conexões com bandas que ele mesmo influenciou bons anos atrás.
Antichrist Superstar fez um belo estrago na esfera metálica da segunda metade da década de 90 ao começo dos 2000; tendo nomes como Moonspell, Tiamat e The Kovenant entre os que lançaram discos mais consistentes – ainda que injustiçados, na época.
Contudo, consistência é o que se sente de sobra neste, enfim, novo petardo de Marilyn Manson. Para fãs, o primeiro capítulo de OAU é como chover no molhado. Nada menos. Agora, caso você pertença a ala dos que não engolem ele por nada no mundo, recomendo uma primeira (ou última) chance às suas músicas. Pode começar por este mesmo, já que está à altura do que o lançou para os holofotes.
Ainda:
+ Ao vivo, o line-up também se renovou com: Reba Meyers (Code Orange – guitarra), Tyler Bates (guitarra), Piggy D (ex-Rob Zombie – baixo) e Gil Sharone (ex-The Dillinger Escape Plan – bateria).
+ One Assassination Under God – Chapter 1 tem produção assinada por Marilyn Manson e Tyler Bates, conhecido por seus trabalhos em trilhas sonoras de filmes. Entre elas, 300, John Wick: Chapter 4 e Cidade dos Anjos.