Nem heavy metal ou música eletrônica, mas rock e pop dos anos 70
Por Luiz Athayde
Disco novo em folha do King Gizzard & The Lizard Wizard. Melhor que isso, só mais. E olha que se a gente piscar, eles soltam mais um.
O último ano rendeu registros que vão do metal pesado ao synthpop; o maravilhoso “PetroDragonic Apocalypse…” e o lisérgico The Silver Cord. Agora, a bola da vez é Flight b741, que só para variar um pouco, em nada se assemelha com os outros citados.
No entanto, há um diferencial importante: todo mundo colaborou. É sabido que o vocalista e multi-instrumentista Stu Mackenzie é o frente do grupo, porém, desta vez a máxima foi compor ao modo clássico.
Ele conta que a ideia consistiu em “fazer algo que fosse primitivo, instintivo, mais ‘das entranhas’ – apenas pessoas em uma sala, fazendo o que parece certo. Queríamos fazer algo divertido”. Como muitas formações dos anos 70.
E foi lá (naquela década) que os workaholics de Melbourne, Austrália, pousaram. A matéria-prima estava ali: rock feito para as rádios; nuances country e funk, embora haja espaço até para o hard rock à la Kiss ou Foghat. Basta ouvir “Field of Vision”, uma das melhores do álbum.
Ainda assim, se há uma influência mestra, ou melhor, duas, essas são Foghat e Electric Light Orchestra; um pena pegada rockeira, e o outro por seu ecletismo e irreverência. Tudo a ver com os Lizards, que aproveitaram esse clima de descontração no estúdio e naturalmente deram ênfase as vozes. Stu contou:
“A colaboração estava ocorrendo na sala. Era livre, e todos traziam músicas e ideias. Queríamos ter o maior número possível de vocalistas principais e passar o microfone, como se disséssemos: ‘Esta é a minha parte, minha ideia, vou cantá-la e depois passarei o microfone para você e você poderá fazer o que quiser’. O disco inteiro foi construído em torno disso. Acabamos fazendo muitos backing vocals e gravações extras [com] todos em uma sala ao redor de alguns microfones, só para dar essa sensação.”
Não à toa, “Mirage City” aponta o caminho para o King Gizzard de hoje. Sim, de hoje, porque amanhã será outro som. Nesta, a pegada é bem caipira, porém, com balanço – uma constante no disco.
“Antarctica” segue pela mesma via, enquanto a fantástica “Raw Feel” ostenta o melhor refrão. “Hog Calling Contest” não empolga menos, uma vez que a pegada boogie soa quase sempre infalível. Ao menos quando vêm deles. “Le Risque” dispensa comentários, como geralmente acontece com as músicas escolhidas para single. É E.L.O. na essência, inclusive no videoclipe. Diversão garantida.
A faixa-título ameaça um Rolling Stones e é meio que isso mesmo, mas ao modo Yankee. “Sad Pilot” figura mais uma canção onde as vozes são o ponto alto, e o mais legal é que independente de quem cante, ela funciona extremamente bem. Deliciosamente funk e melódica.
Logo na sequência surge “Rats In The Sky” para lembrar o pop/rock do fim da década de 70/começo dos 80. Esta remete, dentre tantos nomes, Journey pré-Steve Perry e John Bongiovi – ele mesmo, antes de explodir com aquele grupo – dos tempos da Power Station Records.
Mal dá tempo de respirar e a autoexplicativa “Daily Blues” encerra como uma espécie de resumo do proposto nas dez faixas.
Novamente, os Lizards contaram com velhos conhecidos para os trabalhos em estúdio; tendo Sam Joseph como engenheiro de som e Joe Carra na masterização. Como sempre, Stu Mackenzie cuidou da parte de produção e mixagem. Além de cuidar de encaixar todas as ideias de seus companheiros de banda.
Mais um ponto para estes aviadores, que nunca tiveram medo de mudar da água para o vinho quando o assunto é flutuar por estilos musicais distintos. Que venha o próximo.
Ouça na íntegra pelo Bandcamp. Ou a seguir.