Trio de Boston, nos EUA, segue promovendo seu mais recente álbum de estúdio, ‘Playground’
Por Luiz Athayde
Não é difícil ver, há pelo menos dez anos, bandas que mal se formam e já aparecem com pose de veteranas. Caso dos norte-americanos do House of Harm.
Falange de Boston, formada na recente classe de 2017 pelo vocalista Michael Rocheford e o guitarrista (e synth) Cooper Leardi. A estreia nos palcos foi como ato de apoio a Reeves Gabrels, guitarrista do The Cure – um sinal de seu direcionamento musical.
O também guitarrista/synth Tyler Kershaw entrou em 2018 para se solidificarem como trio, embora já tivesse uma demo no ano anterior.
“Somos todos grandes compositores, então a música não surgiu de uma jam ou de qualquer método convencional como esse”, disse a banda à Stacy Buchanan em 2019, via rádio GBH, sobre “Snowblind”; primeira composição da primeira demo.
Eles aproveitam para detalhar o processo criativo:“Trabalhamos e contribuímos igualmente com as demos uns dos outros e foi assim que ela surgiu. Desde então, nosso som evoluiu para algo que não poderíamos esperar.”
Foi nessa configuração que o álbum de estreia, Vicious Pastimes, surgiu em 2020 via Avant! Records. Um registro urgente, porém, dotado de um clima que se entrelaça entre passado e presente.
Embora traga tantas referências quanto qualquer nome novo do gênero, é na escola Robert Smith onde se sentem mais confortáveis. A exemplo de “Catch”, o melhor momento do disco.
Na verdade, o melhor mesmo veio depois. Os anos seguintes serviram para lançarem mais alguns singles, inclusive em vinil e com shows de lançamento. Até que em 2023, a banda alcançou seu primeiro pico criativo. Sim, primeiro: com o álbum Playground.
Os caras não estavam para brincadeira. A começar no estúdio: produção assinada por Chris Coady (Yeah Yeah Yeahs, TV On The Radio, Grizzly Bear); mixagem de Chris King (The Sea At Midnight); e a masterização pelas mãos de Josh Bonati (HEALTH, Wild Nothing, Beach Fossils).
Cada uma à sua maneira, as dez músicas te acertam como um soco bem dado na jugular. Graças a massa sonora oriunda do peso, da economia zero nos reverbs e da pegada gélida.
É como se as composições já estivessem ali – é bem possível – sendo curadas, ou melhor, “Cureadas”, para serem degustadas no momento certo.
Seja no jeito de cantar de Michael Rocheford ou na abordagem instrumental, ouvimos com facilidade uma espécie de atualização do que o The Cure fez, especialmente nos anos 80.
Destaque com folga para “Before The Line”, “To Last” e a explosiva “Soaked in Pastel”, dançante até a medula. Também há “Ignore The Taste”, onde faz um aceno sutil ao som de Liverpool. Pensou em Echo & The Bunnymen?
A consequência natural disso tudo não foi outra a não ser ótima repercussão nos veículos especializados e pisada funda na estrada. Em julho, o House of Harm continua seu giro pelos Estados Unidos, enquanto os meses de novembro e dezembro estão agendados para a Europa/Reino Unido.
Recomendar bandas (novas ou antigas) sempre será o forte do Class of Sounds. No entanto, tem gente que merece ser indicada ao estilo: “vem cá, escuta isso aqui”.
E pode começar com Playground, na íntegra, a seguir.