O punk com os pés fincados no pós, depois de beber alguma água sabor LSD
Por Luiz Athayde
O pós-punk brasileiro nunca esteve tão efervescente como nos últimos anos. Culpa da pandemia? Do Zeitgeist social, econômico e político? Ou tudo isso e mais um pouco? O que importa (ao menos nessas linhas) é a quantidade de excelentes registros sônicos lançados nesse ano de 2021. Não fugindo à regra, está o sexto EP do guitarrista, vocalista e compositor Felipe Nizuma, intitulado Velhas Datas.
Chancelado pelo recente carimbo Revelia Discos, o pequeno torpedo traz 3 faixas que mergulham direto na psique de qualquer entusiasta por sons rústicos e melodiosos; cortesia da abordagem lo-fi, com viés nítido nas falantes psicodélicas dos anos 60 e 70, mais a neopsicodelia da década de 80.
O play surpreende à primeira audição, especialmente se essa for a estreia do ouvinte que sequer sabe do background do músico japonês da selva de concretos (São Paulo); Nizuma é oriundo das formações thrash metal, Braindeath e Blasthrash, além de integrar a brigada heavy/punk Urutu.
Foi desta última que veio o “corre” para a parte técnica. Gravado entre dezembro de 2020 e junho de 2021, Felipe contou seu companheiro de banda, Thiago Babalu, para a mixagem e a engenharia de som, bem como a bateria, que se mostra com a precisão necessária para se alinhar o estilo de som. A masterização é assinada por Anderson Kabula.
E fez toda a diferença. A faixa-título abre no melhor estilo sessentista – de conexões alternativas com Andy Bell (Ride) e Ian McCulloch (Echo & The Bunnymen) –, como naqueles videoclipes nostálgicos envolvendo filmagens caseiras de família e takes em paisagens campestres com o uso de lente olho de peixe. Já “Bewitched” aparece como uma releitura enfeitiçada para o clássico “Rain” do The Cult; tamanha a atmosfera de Love (1985) nesta canção. Não obstante, dado o seu apelo ‘ao vivo’, a mesma configura facilmente uma ótima opção de apresentações ao vivo.
Se mantendo na linha temporal da lisergia, eis uma das mais fantásticas versões para uma música do Velvet Underground. “All Tomorrow’s Parties” vai muito além de uma mera reprodução. Aqui ela ganha vida própria, praticamente uma composição de Nizuma, ao mesmo tempo em que abre novas possibilidades para abordagens futuras.
Aliás, essa acaba sendo a expectativa natural após conferir um trabalho que poderia ter, no mínimo mais músicas, já que, agora sim, tem potencial para ir além da esfera subterrânea nacional.
Que venha o próximo, neste já previsto caótico ano de 2022. Ouça Velhas Datas pelo Bandcamp, ou abaixo, no Spotify.