Em entrevista exclusiva, Troll norueguês falou sobre passado e seu presente pós-futurista
Por Luiz Athayde
Håvard Ellefsen é um multi-instrumentista norueguês nascido na classe de 1975, mas muitos o conhecem como Mortiis, ex-baixista de um dos maiores nomes do black metal norueguês Emperor e, principalmente, como um ser que transita na zona entre a Idade Média e um futuro distante – e pós apocalíptico.
Um dos resultados dessas viagens sônicas é o álbum Spirit of Rebellion, recém-lançado pela Dead Seed Productions, que também foi um dos tópicos abordados por Luiz Athayde no papo com o músico; além de influências, entusiasmo por tocar na América do Sul pela primeira vez, imprensa musical metálica, black metal norueguês etc.
Confira abaixo essa exclusiva de Mortiis para o Brasil!
Gostaria de começar te perguntando o seguinte: por que voltar à Era 1?
Mortiis: Era uma ideia que eu tinha para entreter por um tempo, mas não tinha muita certeza, provavelmente desde 2016, e uma vez que a versão em banda Mortiis fez uma pausa prolongada na primavera [outono no Hemisfério Sul] de 2017, e ao mesmo tempo em que eu recebi uma oferta para fazer um show da era 1 no 30º aniversário do Cold Industry Industry Festival em Estocolmo, decidi transformá-lo em realidade.
Spirit of Rebellion traz algo novo em relação aos seus álbuns instrumentais. Ele soa tão medieval quanto pós-apocalíptico. Isso foi instintivo ou meticularmente pensado?
Mortiis: Costumo deixar as coisas acontecerem naturalmente, então há definitivamente um pouco disso, mas obviamente existem traços por lá, das minhas idéias e técnicas dos tempos de rock industrial. Dito isso, porém, fiz algumas tentativas de manter a música dentro do tipo de vibração sonora da minha visão dos anos 90, como era a idéia original, para retornar a esse som e vibe, embora em uma versão mais moderna , usando a tecnologia de hoje, até certo ponto, bem como minhas habilidades definidas agora, coisa que eu não tinha em 1993 ou 1994.
E como o álbum está repercutindo até agora?
Mortiis: Parece que bem. O vinil quase esgotou em encomendas à varejo, e as críticas até agora têm sido muito boas. É claro que a Revista Kerrang! odeia, haha!
Sério? Por quê?
Mortiis: Não sei. Eles me tecem críticas ruins toda vez que faço algo não-metal. Eu acho que é a política deles, ou eles ainda vivem na bolha dos anos 90, onde ainda acham legal ser uma espécie de valentões da mídia.
Lembro que lá pelo fim dos anos 90, seus outros trabalhos Ambient já eram cult aqui no Brasil, e recentemente você relançou Cintecele Diavolui em CD e vinil, sem mencionar seus discos da Era 1. Também existe planos para reedições do Vond?
Mortiis: VOND foi o primeiro projeto a ser reeditado. 4 álbuns foram relançados em 2017 em LP e CD e, posteriormente, também em Cassete e no formato Digital.
Qual a importância de relançar todo esse material em edições especiais e luxuosas? Você ainda é um grande colecionador de discos?
Mortiis: Não sei nem me importo com relevância. Quero dizer, desde que me sinta bem com uma reedição, farei isso. Uma das principais razões, é claro, deve-se ao fato de eu possuir muitos dos direitos e gostaria de poder controlar meus próprios lançamentos, na medida em que possuo os direitos autorais e evito bootlegs, e evitar outra escória humana para ganhar dinheiro com o meu trabalho. Eu também acho legal garantir que esteja disponível para novos fãs. Sim, eu coleciono vinil.
The Smell of Rain é um de seus melhores álbuns e marca uma grande mudança como artista solo. Essa mudança também ocorreu com os fãs? Explicando melhor: você mais perdeu ou ganhou fãs por flertar com a música eletrônica?
Mortiis: Em 2001, quando o álbum foi lançado, quadruplicou as vendas em lugares como o Reino Unido; portanto, em termos de vendas, esse álbum aumentou a quantidade de fãs. Tenho certeza de que uma certa divisão foi criada na época, entre certos novos fãs que não entendiam o som antigo e os antigos que não entendiam o novo som, mas isso era esperado.
Nos agradecimentos do encarte você cita artistas/bandas como Skinny Puppy, Nine Inch Nails e até mesmo John Carpenter. Eles ainda te influenciam?
Mortiis: Eles sempre foram altamente influentes em toda a minha produção industrial / experimental. Não tanto para álbuns como Spirit of Rebellion.
Várias de suas composições, independente da era, soam bem cinematográficas. Se você pudesse inserir sua música em um filme, qual seria?
Mortiis: Eu acho que eu poderia fazer um trabalho decente para horror mais obscuro como Hellraiser ou Jogos Mortais. Mas conseguir empregos para fazer trilhas sonoras parece ter muito a ver com estar bem conectado com a indústria.
E no seus tempos no Emperor, que você ouvia?
Mortiis: Thule (rock progressivo norueguês), Diamanda Galás, Venom, Bathory, Sodom, Celtic Frost, Coil, Klaus Schulze, Tangerine Dream, Necrophagia, Darkthrone, Burzum, Mayhem, Mercyful Fate, Slayer (antigo), Dead Can Dance, Pink Floyd, e vai.
Ainda sobre o Emperor, no auge das polêmicas envolvendo assassinatos e queimas de igrejas dentro do movimento black metal norueguês, sua participação foi puramente musical ou também ideológica? Como hoje você analisa aqueles dias?
Mortiis: Todos estávamos envolvidos ideologicamente e musicalmente na época.
Em 2015 o Emperor se reuniu para shows comemorativos dos primeiros dias da banda e contou com Bard Faust na bateria após 20 anos. Por que você, um dos integrantes da formação original, não participou?
Mortiis: Nunca me chamaram. Você tem que perguntar a eles sobre isso. Eu não toco mais baixo, então isso provavelmente foi uma razão, e eu era péssimo como baixista. Claro que isso também foi um grande fator.
Em 2019 você veio pela primeira vez à América do Sul revisitando a Era 1. Como foram os shows e por que o Brasil ficou de fora?
Mortiis: Não sei por que o Brasil ficou de fora. Eu queria fazer mais datas, mas no fim, o “agente” nunca entregou mais do que 4 datas. [Mas] Eu tive um grande momento. Fãs entusiasmados! Bolívia e Equador foram bem loucos, haha!
Mortiis é apenas um alter ego musical ou ele já existia na vida de Håvard Ellefsen? O quanto um influencia (ou inferniza) o outro no processo criativo?
Mortiis: Eu costumava achar que era apenas uma entidade misteriosa, que de alguma forma era separada, mas também em certa medida a mesma pessoa. Hoje em dia não tenho uma relação filosófica profunda com a persona / personagem de Mortiis, ele está profundamente arraigado em minha personalidade agora. Nós somos um.
Para finalizar, um pedido de praxe no Class of Sounds. Gostaria que você listasse 3 álbuns que sempre estarão contigo e 1 que você jogaria no lixo.
Mortiis: 3 álbuns que eu sempre carregarei:
Venom: Welcome to Hell
Tangerine Dream: Cyclone
W.A.S.P.: W.A.S.P.
Lixo:
A maioria das músicas comerciais lançadas desde 1987.
Caso tenha comentários finais, por favor, sinta-se em casa! Obrigado.
Mortiis: Obrigado pelo seu interesse. Espero te ver no Brasil um dia!
Interview: Mortiis, The Two Sides of the Same Coin
Håvard Ellefsen is a Norwegian multi-instrumentist born in 1975. He is known as Mortiis, former bassist of Emperor – one of the biggest bands in the Norwegian Black Metal scene -, but nowadays, he is seen navigating through the zones between the Middle Age and a far distant post-apocalyptic future.
One of the results of these sonic endeavors is the album Spirit of
Rebellion, recently released by Dead Seed Productions. Interviewed by Luiz Athayde, Mortiis will share more information about his new record, his influences, a big enthusiasm for playing in South America for the first time, metal music press, Norwegian Black Metal and more.
Check it out this exclusive interview to Brazil, published by Class of Sounds!
I would like to begin with the following question: Why did you return to Era 1?
Mortiis: It was an idea i had been entertaining for a while, but wasn’t entirely sure about, probably since around 2016, and once the band version of Mortiis went on an extended break in the spring of 2017, and at the same time as i received an offer to do an era 1 show at the 30th anniversary Cold Meat Industry festival in Stockholm, i decided to turn it into reality.
Spirit of Rebellion has something new in your music. It sounds medieval and post-apocalyptic. Was that something meticulously thought or has it happened spontaneously?
Mortiis: I tend to just let things happen naturally, so there’s definitely a bit of that, but obviously there are traces there, of my ideas and techniques from the Industrial Rock days. That said, though, i did make certain attempts at keeping the music within the sort of soundscapy vibes of my 90ies sound, as that was the original idea, to make a return to that sound and vibe, albeit in a more modern version, using technology of today, to some degree, as well as my skill set now, that I didn’t have back in 1993 or 1994.
How is the new album doing so far?
Mortiis: It appears to do well. The vinyl almost sold out on retail preorders, and the reviews so far have been very good. Of course Kerrang Magazine hates it, haha!
Really? Why?
Mortiis: I don´t know why Kerrang hates it. They just seem to give me bad reviews everytime I do something non-metal. I guess it´s their policy, or they still live in some 90ies bubble where they still think it´s cool to be a sort of media bully.
I remember that your Ambient works were cult in Brazil by the end of the 90s. Recently, you reissued Cintecele Diavolui and your first records with Mortiis in CD and vinyl. In this fashion, do you plan to reissue Vond as well?
Mortiis: VOND was the first project to be reissued. 4 albums were reissued in 2017 on LP and CD, and later on, also on Cassette and Digital.
What is the relevance in reissuing all of this material on super unique content (the quality of the boxes is amazing!)? Do you still collect vinyl?
Mortiis: I don´t know or care about relevance. I mean as long as I feel good about a reissue, then I will do it. One of the main reasons, of course, are due to the fact that I own a lot of the rights myself, and I´d like to be able to control my own releases, to the extend I own the copyright, and avoid bootlegs, and avoid other human scum to earn money on my work. I also think it´s cool to make sure it´s available to new fans.
The Smell of Rain is one of your best albums and it inaugurates a big change in your solo career. How did these changes affect your fans? Have you lost or gathered more people around your music after flirting with electronic elements?
Mortiis: Back in 2001 then that album was released, it quadrupled sales in places like the UK, so in terms of sales, that album increased the amount of fans. I am sure a certwin divide was created at the time, between certain new fans that didn’t understand the old sound, and old fans that didn’t understand the new sound, but that was expected.
In the CD booklet, you thank artists/bands such as Skinny Puppy, Nine Inch Nails, and John Carpenter. Do they still influence you?
Mortiis: They were always highly influential for all my industrial/experimental output. Not so much for albums like Spirit of Rebellion though.
I find several of your compositions (no matter the Era) quite in a soundtrack fashion. If you could add your music to a movie soundtrack, which one would you choose?
Mortiis: I think i could do a decent job for darker horror like Hellraiser or SAW. But getting soundtrack jobs seems to be a lot about being well connected in the industry.
During your Emperor era, what did you listen to?
Mortiis: Thule (Norway Prog Rock), Diamanda Galás, Venom, Bathory, Sodom, Celtic Frost, Coil, Klaus Schulze, Tangerine Dream, Necrophagia, Darkthrone, Burzum, Mayhem, Mercyful Fate, Slayer (old), Dead Can Dance, Pink Floyd, and so on.
Still talking about Emperor, I want to travel back to the heydays of the murders and church burning related to the Norwegian black metal. Were you only musically related to the movement or did you participate ideologically? How do you see those days?
Mortiis: We were all pretty much ideologically and musically involved at the time.
Emperor did a series of reunion concerts in 2015 and the band had Bard Faust in the drums after 20 years they played together. Why did you, an original band member, decided to not play in the reunion?
Mortiis: Was never asked. You have to ask them about that. I no longer play bass, so that was probably a reason, and i sucked as a bass player, which i am sure was a big factor too.
You came to South America for the first time in 2019 and revisited Era 1. How were the concerts? Why was Brazil left out of the tour dates?
Mortiis: I don’t know why Brazil was left out. I wanted to do more dates, but the “agent” never delivered more than 4 dates in the end. I had a great time. Enthusistic fans! Bolivia and Ecuador were pretty insane, haha!
Do you consider Mortiis a musical alter ego (a persona) or do you believe it is part of Havard Ellefsen’s life? How much does your persona influence your life and your creative process?
Mortiis: I used to think it was just this mysterious entity that was somehow separate, but also to some degree the same person. These days i have no deep Philosophical relationship with the Mortiis persona/character, it is just deeply ingrained in my personality now. We are one and the same.
Thank you for take your time for this interview. To close our conversation, i will ask the classic Class of Sounds final question. Can you please list 3 albums that you will always carry as a favorite and one record that you would like to throw in the trash can?
3 albums i will always carry:
Venom: Welcome to Hell
Tangerine Dream: Cyclone
W.A.S.P.: W.A.S.P.
Trash:
Most commercial music released since 1987.
If you have any final comments, please feel yourself at home! Thank you.
Mortiis: Thanks for your interest. Hope to see you in Brazil some day!
Assista os vídeos / Watch the Videos:
1) A Dark Horizon
https://www.youtube.com/watch?v=Yapjm9VrZYQ
2) Visions of an Ancient Future
https://www.youtube.com/watch?v=j-RCM61Sb5s
Mais Mortiis no / More Mortiis on:
Spotify: https://open.spotify.com/artist/4jlxvaggBp7wVV02U6YYRQ
iTunes/Apple Music: https://itunes.apple.com/us/artist/mortiis/42365320
Amazon:
https://www.amazon.com/Mortiis/e/B000APYI94
Google Play: https://play.google.com/store/music/artist/Mortiis?id=A4y3jumftvoabw2opi6t7mcuhfu
Instagram:
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Facebook:
https://www.facebook.com/officialmortiis/
Entrevista/Interview: Luiz Athayde
Revisão/Text Revision: Andrey Gonçalves
Fotos/Photo: Soile Siirtola / Anna Kallberg / Matt Lombard / Divulgação/Press