Graças ao apelo étnico, a formação australiana se encontrava a uma distância polarizada em relação ao pós-punk
Por Luiz Athayde
Na década de 90, a banda australiana Dead Can Dance não estava para brincadeira quando o assunto era música étnica.
Após esboços bem-sucedidos nos trabalhos anteriores, Brendan Perry e Lisa Gerrard adentravam de vez nesse estilo tão amplo, para não dizer universal.
Por outro lado, aquele pós-punk dos primeiros registros se encontrava a anos luz de distância, mesmo com nuances aqui e ali de sonoridade dark.
Into The Labyrinth foi gravado no começo de 1993 e a produção ficou com a assinatura de Perry. Foi o primeiro registro a estrear, no âmbito das distribuições, em uma major: a Warner Bross (via 4AD).
O processo até a gravação durou longos meses devido a geografia. Na época, Perry morava em uma ilha na Irlanda, e Gerrard, na Austrália, fazendo com que compusessem as músicas de forma separada.
Quando chegou a hora de fundirem o processo criativo, Lisa viajou até o estúdio Quivvy Church, de Perry. Lá tocaram todos os instrumentos, sem qualquer ajuda de músicos convidados – ao contrário dos álbuns anteriores.
“É uma jornada de um ano de composição, muito focada em viver no campo com pessoas da zona rural. Há um enraizamento folclórico, em um aspecto: um amor pela música natural e primitiva do mundo e também por coisas que soam muito naturais: canto de pássaros, madeira…”, comentou Perry na época.
A arte da capa na verdade se chama “Mãos do Mundo”; uma fotografia assinada por Touhami Ennadre. O título faz alusão à mitologia grega, especificamente sobre Teseu no labirinto contra o Minotauro.
Não se trata de um álbum conceitual, mas há uma conexão óbvia entre as músicas. A exemplo de “Ariadne” (princesa que lhe dá a espada e um novelo de lã), “Towards The Within” (no português: “em direção ao interior”, no caso, do labirinto, e o Minotauro ao centro) e “The Spider’s Stratagem” (esperando no centro de sua teia como o Minotauro espera Teseu no centro do labirinto). Além de “Emmeleia” (dança grega da tragédia).
Nenhuma dessas faixas foi escolhida para figurar um single. Pelo contrário, como nem tudo era Grécia Antiga, composições oriundas de outras influências e experiências pessoais configuraram músicas de trabalho.
Uma delas é “The Host of Seraphim / Yulunga (Spirit Dance)”, esta última, extraída de uma lenda aborígene, sobre a Serpente do Arco-Íris. Já “The Ubiquitous Mr. Lovegrove” se trata do alter ego de Perry. Segundo o próprio: “[É sobre] a relação abstrata entre mim e a mulher”.
O terceiro e último single, “The Carnival is Over”, é inspirado na infância de Perry, quando vivia em East London, visitando o circo. É também nessa música que ele surrupia um trecho da letra de “The Eternal”, do Joy Division: “[The] procession moved on, the shouting is over”. Inclusive há similaridades em ambas as composições.
E os “empréstimos” de versos da banda de Manchester não pararam por aí. “Tell Me About The Forest (You Once Called Home)” pegou duas canções do Joy Division: “and we’re changing our ways, (Yes we are) taking (on) different roads” (de “Love Will Tear Us Apart”) e “this treatment takes too long” (de “Twenty Four Hours”).
Em função de contarem com a Warner, Into The Labyrinth foi lançado em uma quantidade maior de países, mas não no Brasil.
A versão em vinil do mesmo traz as faixas “Bird” e “Spirit”, antes só disponível na coletânea A Passage in Time, de 1991. Dos relançamentos importantes: reedição em vinil duplo remasterizado, nos anos de 2008, 2010 e 2016, sendo o último, tendo a mesma tracklist do CD.
Ainda:
+ “The Host of Seraphim” e “Yulunga” estão na trilha sonora do filme Baraka, de 1992.
+ Todas as músicas do disco são assinadas por Lisa Gerrard e Brendan Perry, exceto pela tradicional “The Wind That Shakes the Barley”, de Robert Dwyer Joyce; e a letra de “How Fortunate the Man With None”, de Bertolt Brecht.