Formação australiana já provocava o ouvinte em seu primeiro disco cheio
Por Luiz Athayde
A classe de 1984 foi mágica no que diz respeito a lançamentos e até mesmo por proporcionar algumas viradas sônicas nas mais variadas esferas musicais. O heavy metal se encontrava em novo assenso. Muitos punks já se conformavam em ser pós. E a superfície regozijava-se com a estreia de Madonna e o premiadíssimo Thriller, de Michael Jackson.
Entretanto, no subterrâneo, um selo de primor estético tomava de assalto a variante da new wave com nomes que iriam deixar marcas duradouras até os dias de hoje. Leia-se: Bauhaus, Modern English, The Birthday Party, Cocteau Twins… Dead Can Dance. O 4AD.
Capitaneado pelos cantores, compositores e multi-instrumentistas Brendan Perry e Lisa Gerrard, a banda australiana chegou mostrando uma outra via para o pós-punk. Cortesia da mescla da crueza do Joy Division com linguagens étnicas, sobretudo tribais, e, ainda assim, com uma pegada sombria singular. Era a estreia discográfica cheia do grupo formado em Melbourne, na classe de 1981.
Ainda no line-up, os músicos Paul Erikson, James Pinker e Peter Ulrich; este último um colaborador de longos anos. As gravações aconteceram no Blackwing Studios, e teve assinatura de John Fryer (This Mortal Coil) na produção.
As 10 faixas escolhidas para figurar o registro antecipavam o futuro e um nome que não iria se prender a uma fórmula. Embora as passagens pelo ethereal e o gothic rock já estivessem bem presentes.
Mas, não era o caso visualmente. Ao contrário do pessoal de sobretudo e batons pretos, a “ordem” era serem eles mesmos, ou, para uns, “normal”. Inclusive a própria banda deixou por escrito o porquê de não se vestirem como morcegos nos shows.
“Para entender por que escolhemos o nome, pense na transformação da inanimidade em animacidade. Pense nos processos relativos à vida, da morte e morte à vida. Muitas pessoas perderam a intenção simbólica inerente à obra e presumiram que devemos ser “tipos góticos mórbidos” ”
Mesmo na capa do álbum, Perry, Gerrard e cia buscaram referências fora do óbvio. A mesma inclui uma foto extraída de uma arte de Papua-Nova Guiné, na Oceania, do lado esquerdo, com os dizeres ΔΞΛΔ CΛΝ ΔΛΝCΞ para se assemelhar visualmente à alcunha.
No âmbito dos licenciamentos, nem de longe a autointitulada estreia passou pela América do Sul. Pelo contrário, houve lançamentos em parte da Europa, América do Norte, Japão e Rússia. Inicialmente em LP, e já em 1987, a primeira prensagem em CD em território japonês incluindo o EP Garden of the Arcane Delights, de 1984.
Das reedições mais significativas, versão remasterizada em vinil duplo 180 gramas em 2008 pela 4AD e Vinyl 180, incluindo o álbum no disco 1 e o já citado EP no disco 2.