Disco soa mais leve e menos intricado que o icônico grupo alternativo dos anos 90
Por Luiz Athayde
Cá entre nós: qualquer sinal de fumaça do cantor, compositor e guitarrista norte-americano Ian MacKaye desperta, no mínimo, muita curiosidade.
Cortesia de seu currículo, que além de envolver alguns dos atos mais seminais do punk rock/hardcore, se confunde com a história do mesmo. Vide antigos nomes como The Teen Idles e Minor Threat. Sem mencionar o fato dele ter feito escola com o fantástico Fugazi.
Mas isso não serviu para MacKaye cair de cabeça nos holofotes. Pelo contrário: com o fim do Fugazi, aí que ele sumiu mesmo, se concentrando na Dischord Records (selo ativo criado por ele em 1980), e eventualmente lançando discos com o The Evens.
E é justamente desta banda que saiu a baterista e vocalista Amy Farina, para fechar (ou melhor, iniciar), com o baixista e vocalista Joe Lally (Ataxia, The Black Sea, The Messthetics, Decahedron, Sevens, Fugazi) e Ian. O nome do projeto? Coriky. E do disco de estreia? Também.
O primeiro single “Clean Kill” viu a luz do dia no início de fevereiro. Este não apenas abriu o registro, como é uma das que mais se parecem com o famoso ex-grupo de Lally e MacKaye. Pudera: é bem provável que soubessem que tais comparações iriam rolar.
No entanto, não é de todo um mal. Na verdade, a faixa é apenas um falso aperitivo para o que viria adiante: um álbum solto – desenhando melhor: sem a menor pressão para soar “assim” ou “assado” –, diversificado e com temperos já experimentados ao longos desses últimos 25 anos.
Inclusive vale até um samba quadradão, como em “Shedileebop”, que por sinal é um dos pontos mais altos do debut.
Na descrição do grupo consta que “Coriky é uma banda de Washington, D.C. Amy Farina toca bateria. Joe Lally toca baixo. Ian MacKaye toca guitarra. Todos cantam”. Com a mesma qualidade, diga-se. A exemplo de “Too Many Husbands”, faixa que poderia ter entrado tranquilamente em Red Medicine (disco do Fugazi de 1995).
Mesmo não se tratando de um álbum revolucionário, a estreia discográfica do Coriky destoa dos demais lançamentos da classe de 2020 pelo simples fato de trazer importantíssimos nomes do cenário de Washington. E fazendo o que sabem melhor, ou seja, viajar a torto e a direito, mas sempre na vanguarda.
Ou, o que melhor define o real significado da palavra indie; independente, rock, desprovido de amarras – e mesmo sem frescuras. Discaço. Quando virá o próximo?
Ouça Coriky no Spotify.