Noruegueses voltaram com as grandes melodias e o teor épico que parecia perdido entre as neblinas
Por Luiz Athayde
Desde sua gênese, em 1995, a falange progressiva Borknagar nunca gostou de ser rotulada como black metal.
A banda é nativa de Bergen, Noruega (capital mundial do gênero), e conta com integrantes e ex-integrantes dos mais infames nomes da cena negra daquele país. No entanto, o guitarrista e líder Øystein Garnes Brun sempre teve como mote a criação de música melódica, a fim de derrubar as barreiras da via mais tradicional daquele vigente estilo.
Inclusive consistência poderia ser o sobrenome desse grupo de discografia invejável. Vide os nascidos clássicos The Olden Domain (1997) e The Archaic Course (1998). Mas também os excelentes Empiricism (2001) e Epic (2004); ambos já contando com o vocalista sueco Vintersorg no lugar de ICS Vortex.
Os dois se encontraram definitivamente alguns discos depois, alinhando-se à necessidade interna (da banda) de retomar sua rota de origem. Porém, sem perder o olhar evolutivo.
Atualmente, o line-up é configurado com o mentor Øystein e Joisten Thomassen nas guitarras, ICS Vortex no baixo e vocais, mais Lars “Lazare” Nedland (teclados, sintetizadores e, eventualmente, vocais) e Bjørn Dugstad Rønnow (bateria). a resultante foi True North.
Lançado agorinha pelo carimbo Century Media, True North traz nove inspiradíssimas faixas, revelando o tino do grupo para extrair influências setentistas, mesclá-las à nossa era e soarem de maneira singular.
Basta ir pelo início. “Thunderous” mostra de longe que os noruegueses não estão para brincadeira; majestosos logo de cara.
Não ao acaso, “Up North” foi o primeiro single do álbum. Em um nó temporal que envolve seus primeiros dias e até mesmo os anos 1970 nos arranjos, esta faixa figura entre as mais empolgantes de toda a história da banda. Vortex simplesmente destrói.
Já “The Fire that Burns” soa como Borknagar clássico; início bombástico endossado pelos vocais odiosos de Vortex, e o contraponto com as melodias oriundas dos backings de Lars.
Quase que um interlúdio, “Lights” viaja novamente pela década de 70, dando um impressionante contorno à contemporaneidade na ponte que irá levar ao refrão. “Wild Father’s Heart” até seria uma típica faixa de “meio de disco”. Ou seja, lenta e deveras massante. Não fosse a capacidade do grupo de envolver o ouvinte mais uma vez com uma poderosa melodia.
“Mount Rapture” e “Into the White” seguem a linha mais cadenciada, medindo peso e melodia na balança do tempo criada por eles. A longa faixa “Tidal” lembra os melhores momentos de The Archaic Course, álbum citado acima, mas com um upgrade que os impedem de soarem repetitivos.
Fechando com chave de ouro, eis a faixa “Voices”, curiosamente cantada pelo tecladista Lazare. Poderosa e naturalmente aclamada pelos fãs, ela denota o atual status quo da música pop escandinava, em sua métrica de composições densas e ao mesmo tempo dialogáveis com o público.
O mais novo álbum do Borknagar não poderia ter outro título. True North é também o norte que a banda sempre deveria ter tomado; robusto como nunca, melodioso como sempre, épico como agora e honesto como amanhã. Quando tudo parecia perdido na esfera metálica, eis que chegam esses noruegueses na classe de 2019 para dizer: “mesmice não é com a gente”. Fantástico.
Ouça True North na íntegra a seguir: