A estreia solo da islandesa a consolidou como uma artista naturalmente sedenta por inovação
Por Luiz Athayde
E lá se vai mais um ano desde que Björk Guðmundsdóttir abria suas asas para içar voos ainda maiores com sua carreira musical.
Após o “derretimento” dos cubos de açúcar islandeses, a cantora, compositora e artista visual não quis perder tempo e soltou, em 1993 o autoexplicativo Debut.
Lançado pelo carimbo anarcopunk One Little Indian – capitaneado pelo baixista do seminal Flux of Pink Indians Derek Birkett –, Debut foi gravado em 9 estúdios (isso mesmo, nove), sendo um deles em Mumbai, Índia; algo totalmente fora do comum na época, mesmo se tratando de uma artista já estabelecida.
A produção foi co-assinada com Nellee Hooper, que já possuía um desejável currículo com Soul II Soul e Sinead O’Connor. Além de ter sido membro do pré-Massive Attack The Wild Bunch.
Apesar de mostrar fortes influências da então dominante House Music, alguns de seus singles lançados foram justamente o de sua veia experimental, ainda tímida na sua estreia.
“Human Behaviour” foi um dos vídeos incessantemente exibidos inclusive na MTV Brasil; talvez por ser a primeira amostra da conexão da cantora com o país.
A batida orquestrada, que por sinal é a força motriz da música, é um sampler de “Go Down Dying”, composta por ninguém menos que Tom Jobim com arranjo de Quincy Jones e Ray Brown, para a trilha sonora do filme The Adventurers (“O Mundo dos Aventureiros”, 1970), interpretada pela The Ray Brown Orchestra.
Ainda sobre cordas, “Play Dead” mostrava as possibilidades das orquestrações no Trip Hop – tanto que lhe rendeu lugar na trilha do filme A Idade da Violência (The Young Americans), de Alison Owen –, assim como “Venus as a Boy”.
As mais “housy” tiveram espaço com “Big Time Sensuality” e “Violently Happy”. Todas nas paradas britânicas, sendo três (“Human…”, “Violently…” e Big Time…”) nas americanas.
A concepção do álbum teve origem no único lugar possível: Manchester.
“Eu me lembro de ir para Manchester, e do 808 State ter me levado pelos arredores, e eu apenas via coisas que eu sequer esperava existir. Então eu ficava acordada até de manhã… às vezes apenas entusiasmada pela música”, disse Björk fascinada após voltar da Inglaterra.
E não parou por aí. À medida que suas composições – de mote eletrônico – iam tomando forma, seu desejo por adicionar elementos jazzísticos cresceu, fazendo a cantora pedir a mãozinha do especialista em jazz e produtor Paul Fox, que já havia trabalhado com sua ex-banda The Sugarcubes.
O resultado? “Like Someone In Love”, contando com a lendária harpista americana Corky Hale, e “The Archor Song”, gravada com alguns saxofonistas em Londres.
Listar a quantidade de aparições em rankings de “melhores álbuns” não caberia aqui. Até porque, neste exato momento, algum jornalista, entusiasta ou os dois, pode estar criando sua própria lista, a fim colocar Debut entre os discos mais importantes dos anos 1990.
E é. Embora seja sua ‘estreia’ (não esquecer do autointitulado de 1977!) no âmbito solo, Debut consolidou Björk como uma artista idiossincrática para o grande público.