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Ariel Maniki and the Black Halos – Fractals

Registro mostra músico costarriquenho com um leque criativo mais amplo

Por Luiz Athayde

Existem bandas e existem máquinas de lançamentos sônicos. O ato de darkwave/rock gótico Ariel Maniki and the Black Halos figura facilmente a segunda lacuna, graças a seu mais recente álbum inédito, Fractals.

Formado como um projeto solo do músico e compositor costa-riquenho Ariel Maniki, a coisa foi tomando forma, ao menos para execução das faixas em estúdio e ao vivo: Janice Black nos sintetizadores e Eva Red comandando o baixo nos palcos.

Ariel Maniki and the Black Halos (Foto: Rodrigo Alfaro)

Seu novo registro saiu novamente carimbado pela Deepland Records. O que não é nenhuma surpresa, tendo em vista que Maniki é um velho conhecido do subterrâneo brasileiro. São cinco trabalhos lançados pelo selo paulistano e cadeira cativa no Deepland Festival.

A opção aqui seria sentar em um sofá bem confortável e estender a linha do tempo de Black Light (2021). Porém, não foi o que aconteceu. O músico resolveu explorar a beleza possível na música sombria através de novas nuances; outras cores, por assim dizer.

Fãs de The Cure, por exemplo, são convidados a um deleite logo em “The Last Light”; tamanha a conexão com o que Robert Smith fez, especialmente no seminal Disintegration (1989).

No entanto, “Supernova” soa exatamente como uma canção gótica precisa para içar o ouvinte: baixo como protagonista, refrão explosivo. Não preciso dizer que foi um dos singles do disco.

 “Hyenas” escurece ainda mais o que mal se via, e faz uma conexão própria com Fields Of The Nephilim. Por sinal, essa é uma das grandes influências de Maniki, perdendo apenas para os mexicanos do Caifanes. “The Cell” mergulha no período mais experimental do pós-punk, com ecos distantes de Theatre of Fate.

“Once And For All” é outro grande momento do álbum. Seu início engana pela pegada lo-fi, mas o que se ouve é um fluido e melódico direcionamento new wave.

Essa mesma abordagem já foi sinalizada por nomes como The Mission e Clan of Xymox, é verdade. Porém, o lance de Maniki é permanecer nas sombras. “Into The Sun”, aliás, é um exemplo ainda mais nítido disso; dado seu tribalismo mesclado a vocais distorcidos.

Que se trata essencialmente de um disco de gothic rock, isso a gente já sabe. Mas, a música que mais se encaixa na temática do álbum é justamente uma acústica.

Enquanto o registro é descrito como uma busca pelo belo e também por significados, mas que acaba em escuridão, “Paralysis” apresenta estes mesmos pontos (beleza e sentido) de um jeito poético, bowieano.

Novamente Robert Smith e cia “dão as caras” no que foi o cartão de visitas de Fractals. Claro que não dá para limitar “Love you Like The Ocean” a isso.


Entretanto, é uma faixa que denota uma etiqueta (quase) drone/shoegazer da mesma forma que o Cure soltou na segunda metade da década de 80. Envolvente do início ao fim.

Agora, por que não um apelo mais eletrônico? Na verdade, “A Different World” faz melhor ao caprichar na maquiagem preta à mescla de acústico e sintético.

Então, lembra do Caifanes? Pois bem, “Remember Me” encerra o álbum quase como um elo perdido entre o álbum deles de 1994, El nervio del volcán, e Remando, debut do vocalista Saúl Hernández. Cortesia de seu viés desplugado, costeiro e não tão ensolarado.

Qualquer tempero a mais em um estilo tão linear quanto o gothic rock é bem-vindo. Nada contra o tradicional. Pelo contrário: a velha guarda já tem seu lugar na cabeceira e serve para nós revisitarmos sempre que quisermos.

Só que novas gerações de bandas surgem a cada segundo. E ouvir Ariel Maniki and the Black Halos em Fractals, ainda que tenha sua base nas sombras (graças, diga-se), traz um vento fresco, de novidade.

Ainda:

+ Descanso que nada: em 25 de dezembro sai o disco ao vivo ‘Communion’, gravado no Teatro Nico Baker em San José, Costa Risca, no dia 15 de julho desse ano. A chancela será do carimbo peruano Tumbas Eternas Records, que lançará o álbum nas edições em vinil: preto e azul. Limitado em 300 cópias. Pré-venda disponível neste link.

+ Fractals foi produzido no MediaLuna Studio em San José. Ariel Maniki assina absolutamente tudo; produção, mixagem, masterização. Bem como músicas e letras.

+ A arte da capa é assinada por Hymenoptera/Eva Red.

Ouça Fractals na íntegra pelo Bandcamp, ou a seguir, via Spotify:

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