“Variações” conta a história do inventor do pop português António Variações
Por Luiz Athayde
Com os ventos a favor para produção de cinebiografias, quem ganhou a sua foi talvez o maior nome da música pop portuguesa António Variações. Dirigido por João Maia, Variações tem estreia marcada – na terra de Cabral – no dia 22 de agosto e será protagonizado por Sérgio Praia, mais conhecido por trabalhos televisivos. Dentre outros, o elenco ainda conta com Victoria Guerra, Teresa Madruga, Filipe Duarte, Diogo Branco e o brasileiro Augusto Madeira (A Grande Família, Alma Gêmea, Tropa de Elite, Bingo: O Rei das Manhãs e muitos outros), interpretando o jornalista brasileiro radicado em Portugal, fugido da ditadura Luís Vitta.
Assista o trailer:
A aparição de António Variações na música portuguesa foi meteórica, mas significativa. Com uma vida dura antes da fama, o artista nascido António Joaquim Rodrigues na pequena aldeia Lugar de Pilar na cidade de Amares, Portugal, era um dos doze filhos de Deolinda de Jesus e Jaime Ribeiro. Aos 12 anos foi para Lisboa estudar e desde cedo já demonstrava sinais de que iria balançar microscopicamente o Zeitgeist local com seu excêntrico gosto por roupas e arte em geral, além de ter sido o primeiro cabeleireiro unissex de Portugal. Vivendo em um país extremamente religioso e conservador, especulavam sobre sua sexualidade; algo que em especialmente durante sua carreira, o cantor numa demonstrou abertamente.
Sob influências artísticas que iam de Marilyn Monroe à Rainha do Fado Amália Rodrigues (sua maior referência), em meados dos anos 1970 montou seu grupo Variações, assinando contrato com a grande Valentim de Carvalho em 1978, gravando seu primeiro single Estou Além / Povo que Lavas no Rio (de Amália Rodrigues), mas vendo a luz do dia somente em 1982. Após alguns singles, em 1983 seu álbum de estreia Anjo da Guarda é lançado. Contando com dois hits “É p’ra Amanhã” e “O Corpo É que Paga”, o disco mostrava suas claras influências da Rainha do Fado no forte pop/new wave que se fazia na época.
Em 1984 lança seu segundo e último disco, Dar e Receber, e mesmo gozando do sucesso, Variações mostrou que não esqueceu de suas raízes, fazendo referência à sua saída do interior para a cidade grande: “Olhei Para Trás”: “E assim saí daí / de olhar para trás / pensamento em frente / em frente não havia mais nada não / do que um comboio, a cisade / um navio e um avião”. Ainda no mesmo ano fez sua última apresentação no programa de TV ‘A Festa Continua’. Já se encontrando muito doente no hospital, Variações não pôde desfrutar do sucesso que “Canção de Engate” fez ao tomar as rádios.
No dia 13 de junho de 1984 António Variações falace aos 39 anos na Clínica da Cruz Vermelha vítima de broncopneumonia, provavelmente por ser HIV positivo. Das inúmeras homenagens prestadas ao artista, uma das mais festejadas foi no Rock in Rio Lisboa em 2014, com Rui Prega, Linda Martini, Deolinda e Gisela João lembrando os 30 anos da morte do cantor e compositor que quebrou os paradigmas da música portuguesa.
A correlação com Renato Russo feita inclusive por portugueses ao mencioná-lo para brasileiros se dá em função de sua importância como artista e tamanho de seu legado; que certamente será amplificado com o lançamento de Variações.