Tão gótico quanto rock, em seu terceiro álbum, o grupo traz um novo sopro de vida para o gênero
Por Luiz Athayde
Enfim, saiu o aguardado terceiro álbum dos gothic rockers do Grooving in Green. Inspirado no primeiro single da seminal banda pós-punk/gothic rock The March Violets, o grupo teve sua gênese em 2008 com o guitarrista Pete Finnemore, após convidar seu ex-companheiro no grupo gótico inglês Children On Stun Simon Manning para juntar forças e compor juntos.
Na sequência, Tron (ex-Solemn Novena) junta-se à banda e em 2009 lançam seu primeiro EP Ascent, e em 2010 soltam seu debut Post Traumatic Stress, com produção assinada por Stephen Carey (The Eden House) e contando com colaborações de peso, como Andy Jackson (engenheiro de som do Pink Floyd) e o seminal baixista do Fields Of The Nephilim Tony Pettitt. No ano de 2012 a banda repete a dose e lança o elogiadíssimo Stranglehold.
Entre algumas mudanças na formação – incluindo as tristes e repentinas mortes do baixista e membro fundador Simon Manning e do baterista Thomas T Cat –, em 2016 a banda se solidifica com o irlandês de Belfast Tron (vocais), Pete Finnemore (guitarras), a italiana Switchblade Switch (baixo) e Simon Rippin (bateria), também conhecido por seus trabalhos no Fields Of The Nephilim e em seus “spin-off”, como NFD, Nefilim e The Eden House, dentre outras bandas. Sob esse contexto, o Grooving in Green lança hoje A Second Chance…
O álbum já abre com a empolgante faixa-título, mostrando o real significado do nome da banda, assim como a potência das quatro cordas de Switchblade Switch. Ainda sob o comando do baixo, “Entrenched Divides” apresenta dramáticos momentos cadenciados, endossados pela inspirada interpretação de Tron e os riffs matadores de Pete Finnemore.
Anteriormente – e incenssantemente – divulgada nas mídias sociais “A Little Soul” soa como um pesado encontro etílico entre Wayne Hussey (The Mission) e Ian Astbury (The Cult) em algum pub de Londres; aliás, as influências dos clássicos do pós-punk/hard/gothic rock estão ali, mas de maneira subversiva. Sucedendo com uma “terrível ressaca”, temos “Guilty Conscience” e “Hope”, onde reflexão se faz necessária, principalmente em tempos de polarização política mundial. Não menos crítica, banda traz a ácida “Online Activist”, inclusive trazendo as mesmas influêcias dub que o padrinho do gótico Peter Murphy usou na “você sabe qual música” do Bauhaus. Com um excelente título, “Post Truth” mostra o óbvio: não importa o que você vê, apenas o que acredita – mesmo sendo uma grande mentira.
Até ao lançarem mão de influências de The Sisters Of Mercy, fizeram diferente; ao invés de soar como mais uma cópia dos gloriosos dias dos clássicos ‘First And Last And Aways’ e ‘Floodland’, foram à 1983 e pegaram o melhor de “Temple Of Love” e repaginaram para 2019 com “Out Of Time”. De longe as mais rockers, “What’s Wrong With You?” e “Moving On” releva o lado mais raivoso do grupo, deixando dúvidas se estamos mesmo ouvindo um disco de gótico ou de algo mais rock.
Mas é aí que a banda se sobressai nos lançamentos do gênero. Na atual tendência de nuances eletrônicas e vocais artificiais, o Grooving in Green não teve medo de se arriscar ao trazer novamente o lado mais visceral para o gótico, que há tanto tempo havia se perdido, e ainda deixar intacta a veia tradicional, mesmo em um gênero musical tão diluído ao longo dos anos, pelo simples medo de inovar. Em suma, gothic rock reto, direto e sem frescuras; discaço.
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