A era de transição da banda norueguesa marcou o lançamento de um clássico do metal gótico
Por Luiz Athayde
Neste exato dia, na classe 1998, uma das bandas pioneiras do gothic metal “A Bela e a Fera” – união de vocais masculinos guturais e vozes femininas suaves – brindava o universo sônico com sua peça mais original da discografia, bem como de todo o gênero; Theatre of Tragedy lançava Aégis, seu terceiro álbum.
Formada em 1992 na breve, mas efervescente cena de Stavanger pelo vocalista Raymond István Rohonyi e os guitarristas Tommy Lindal e Pål Bjåstad; e na sequência contando com Liv Kristine Espenæs (vocais), Eirik T. Saltrø (baixo), Lorentz Aspen (teclados) e Hein Frode Hansen (bateria), lançam seu primeiro cassete em 1994, sob o título Demo 1994.
Com a significativa repercussão no subterrâneo local, conseguem o carimbo da Massacre Records, que editam o autointitulado álbum de estreia em 1995 e o hoje clássico Velvet Darkness They Fear (já com Geir Flikkeid nas guitarras no lugar de Bjåstad) em 1996.
Dada a similaridade entre os primeiros registros, o grupo sentia que era hora de mudar, mas parte desta transição envolveu a traumática saída de Lindal em 1997 para retirar um tumor no cérebro; e Flikkeid, que mal tocou no EP A Rose For The Dead, daquele mesmo ano.
O disco foi gravado no Woodhouse Studio em Hagen, Alemanha e teve produção assinada pelo britânico Peter “Pee Wee” Coleman, que dentre suas credenciais, pode-se encontrar trabalhos com nomes como Orchestral Manoeuvres in the Dark, The Charlatans e Echo & The Bunnymen, e também nas fases de transição do Amorphis e Paradise Lost.
O resultado não poderia ter sido mais polido. Aégis reluz de forma única ante os lançamentos do gênero daquele período, graças ao flerte explícito dos noruegueses como o rock gótico e o dreampop; além de sutis camadas industriais e momentos etéreos processados à própria maneira, das principais formações do estilo – Cocteau Twins e sobretudo Dead Can Dance.
Tudo isso aliado a temas essencialmente europeus; “Venus” e “Poppæa” são de fontes romanas, enquanto “Aœde”, “Cassandra”, “Bacchante” e “Siren” vêm da mitologia grega. Já “Lorelei” foi extraída do folclore alemão. Uma das faixas mais melódicas do álbum, “Angélique” teve inspiração no poema medieval Orlando Furioso. Assim como nos registros anteriores, as letras são escritas em inglês arcaico e latim.
Foi de longe, o álbum mais aclamado pelo público e crítica, rendendo notas altas inclusive em veículos não metálicos, como o Allmusic; 4/5.
O único single extraído das sessões foi “Cassadra”, lançado poucas semanas antes do álbum, em 27 de abril de 1998. Nas paradas, a melhor posição foi na alemã: 40º lugar. E vale lembrar que não se trata do ranking undeground, e sim da música em geral.
No âmbito dos licenciamentos, Aégis teve boa distribuição no Leste Europeu e em parte da Ásia, para citar perímetros não muito usuais. No Brasil, as prensagens em CD ficaram a cargo de uma parceria entre a argentina NEMS Enterprises e a Rock Brigade Records; e relançamento chancelado pela Hellion Records em 2002.