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Twin Tribes – Ceremony

Pós-punk sem frescuras e com um gosto de ‘poderia ter mais’

Por Luiz Athayde

O duo texano Twin Tribes não deve saber o que é passar pela famosa “síndrome do segundo disco”, e a razão provável é por estarem cientes de que o que fazem não é apenas bom, mas ultrapassa os limites da excelência.

Também, pudera. A sensação imediata ao ouvir Ceremony, seu segundo álbum, é que a simplicidade e o papo reto de outrora, tão eficaz no pós-punk está, enfim, de volta.

Composto por Luis Navarro (voz, guitarra, sintetizadores) e Joel Niño (baixo, sintetizadores), este ato formado em 2017 também chama a atenção por não se permitirem descanso nas suas atividades.

Twin Tribes (foto: divulgação)

Talvez o fato de serem do Texas, o fetiche por ambientações gélidas se fez ainda mais forte neste registro de 35 minutos: Coldwave conciso, como deve ser.

Após a sutil introdução, “Exilio” abre com baixas temperaturas em um andamento quase quebrado de “bateria”, servindo de passagem para “Heart & Feather”. Reta e dançante, sua atmosfera empolga pela polidez que o duo trouxe a crueza do gênero; facilmente um dos pontos altos do disco.

Como não há para onde correr, o jeito foi se deixar levar pela obrigatória influência de The Sisters of Mercy e, especialmente Clan of Xymox quando o assunto é “escurer”. E “The River” se encaixa perfeitamente neste quesito.

Na sequência vem “Avalon” mostrando que menos é mais e clima é tudo. “Obsidian” flerta com os primeiros dias realmente góticos de Robert Smith à frente do The Cure, embora qualquer conexão com “Pictures”, do Asylum Party seja mera surrupiada. Densa e com aquele clima de meio de disco, esta faixa soa como uma pausa necessária para retomar o fôlego em “Fantasmas”.

“VII” seja talvez a que mais se aproxime do coldwave capitaneado pelos franceses de Courbevoie, uma das referências natas do duo.

A sequência final se dá com 3 faixas que poderiam muito bem fazer parte de uma só, apesar da diferença entre andamentos. Enquanto “Upir” se relaciona (não intencionalmente) com Drab Majesty, “Perdidos” volta aos anos 80 com seu estilo clássico: bateria marcada, fumaça ao redor e amplificadores estourando no palco.

Já “Shrine” encerra com aquele desejo de “quero mais”. Mas é aí que mora a genialidade de Ceremony: mais que isso, estraga. Enjoa. Até por que não se trata de um álbum de rock progressivo e sim de pós-punk, e dos mais redondos produzidos nesta efervescente safra de 2019.

Dizer “melhores do ano” ou “mais mais”, é ultrapassar a linha do cliché, mas dada a inspiração – ou aspiração – do Twin Tribes para pegar o ouvinte logo nas primeiras notas, é válido que estejam ao menos entre os registros mais empolgantes nos últimos dias. 365 talvez.

Ouça Ceremony no Bandcamp.

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