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The Who – Who

É possível que este seja o último registro discográfico dos reis do MOD

Por Luiz Athayde

Duas das frases mais usadas especialmente na/para se referir à esfera musical são: “em time que está ganhando não se mexe” e “não queremos fazer a mesma coisa a vida toda”.

O The Who, aqueles gangueiros mod da terra da rainha oriundos dos anos 1960 já lançaram mão de ambas, mesmo sem eventualmente terem dito.

The Who (foto: divulgação)

Mas, cá entre nós, para quem viveu altos e baixos, sobreviveu as mais diversas tendências sônicas – inclusive influenciadas por eles mesmos, assim como sua geração – tem mais é que se aproveitar do salvo conduto da experiência, perguntando: “quem?”, ou melhor: Who.

Voltando após um esperado hiato de 13 anos, que pensava-se ser definitivo, Pete Townshend e Roger Daltrey resolveram botar o que parece ser o ponto final de sua extensa e influente carreira discográfica.

Neste possível canto do cisne, o time foi mexido para fazer justamente o que sempre soube fazer a vida toda, um belo, básico e empolgante rock and roll, pegando suas antigas molduras setentistas, como Who’s Next e seus subsequentes.

As duas primeiras faixas (e dois primeiros singles) “All This Music Must Fade” e “Ball and Chain” que o digam, ou mesmo “I Don’t Wanna Get Wise” e “Detour”, que mesmo para atualizarem sua pauta, como na ótima balada “Beads On One String”, as métricas do passado se fazem presentes.

Mesmo não soando tão óbvia, “Hero Ground Zero” pega facilmente o ouvinte por seus toques clássicos e conexões imediatas com Tommy. Um dos pontos mais altos é certamente “Street Song”, mostrando que um dos fortes da banda na hora de cativar é o poder das melodias; instigante é pouco.

“I’ll Be Back” flerta sem medo com o soul, enquanto que “Break The News” apela para o estradeiro country radiofônico – más línguas poderiam facilmente comparar com Bruce Springsteen.

“Rockin’ In Rage” traz a diversificação, outra característica marcante no The Who, mas a maior curiosidade nesta faixa é o fato (ou a percepção) de parecer uma banda dos anos 90 que se usou eles como influência.

Vagando pelos mais variados andamentos, incluindo a quase hibérica “She Rocked My World” abrem caminho para “This Gun Will Misfire”, cheia de contratempos e passagens intricadas, mas em formato pop; mais genial, impossível.

“Got Nothing To Prove” surpreende por sua nostalgia quase que pornográfica à década de 60, de tão fiel àqueles anos. Viagem mono em meio a um embalo clássico de fazer dançar até os mais paradões. Se o álbum fosse todo nesta via, não seria de todo mal; aliás, nada.

O encerramento se dá com mais dotes vocais de Townshend em “Danny And My Ponies” em mais um movimento “springsteeniano”, mas nada que altere o resultado final.

Dado o nível de Who, o desejo natural é que a caixa musical Townshed/Daltrey não deixe de soltar mais sons, mais álbuns. O velho papo, para não dizer piegas de que o rock morreu e que vovôs devem se aposentar certamente não serve para estes lordes da música britânica.

Vale lembrar que já nos encontramos na era das mortes da rapaziada que começou e ajudou a moldar a coisa toda. Neste contexto, deve-se ouvir Who como uma forma de agradecimento por ainda estarem por aí produzindo, tocando, juntamente com McCartney, os fragmentos do Pink Floyd Gilmour e Waters e claro, os Stones. Nota 9 de 10 na classe de 2019 – passou de ano.

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