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…and Oceans – Cosmic World Mother

Finlandeses retornam flertando menos com o industrial… e mais com a música extrema

Por Luiz Athayde

Na primeira era de atividades, a brigada ultra sônica finlandesa …and Oceans trocou de integrantes mais vezes que o número de oscilações de marés ocasionadas por aterramentos em praias de bairros nobres do litoral brasileiro.

Entre 1995 e 2005, um punhado de álbuns de orientação extrema foram lançados, indo do black metal sinfônico a um caótico industrial.

The Dynamic Gallery of Thoughts, de 1998, marcou a estreia do grupo com origem nas cidades de Pietarsaari e Vaasa, ambas no Golfo de Bótnia, em direção a Suécia. Em 2002, Cypher encerrou a primeira etapa dando lugar a uma nova banda, Havoc Unit, já que àquela altura, eles se encontravam imersos em terrenos industrais. Harsh, por assim dizer.

O tempo passou e os guitarristas e membros originais Teemo Saari e Timo Kontio (ou apenas “T”) retomaram os trabalhos de uma maneira surpreendente, ainda que se tratando de metal extremo nos dias de hoje.

Via carimbo Seasons of Mist, o duo, acompanhado por Syphon (baixo), Kauko Kuusisalo (bateria), Antti Simonen (teclados) e Mathias Lillmåns (também vocalista do Finntroll) no comando do microfone, editou recentemente, após um hiato de 18 anos, Cosmic World Mother.

…and Oceans 2020 (Reprodução)

As gravações do novo registro dos finlandeses dividiram-se entre o SoundSpiral Audio, Ryiy’s cave e o Wolfthrone Studios; do proprietário, engenheiro de som e outras credencias, Owe Inborr. Ele também assinou a produção.

E o cara não fez feio. Muito pelo contrário; atualizou a sonoridade da banda e extraiu os momentos mais furiosos dos primeiros discos.

Logo na primeira faixa o grupo mostra que não está para frescura. Nada daquelas chatíssimas introduções de dois, três minutos. “The Dissolution of Mind and Matter” é puro metal extremo nos seus moldes clássicos, e também, liricamente, mantendo intacta sua velha pegada metafísica.

“Vigilance and Atrophy” segue a linha reta do estilo, de mezzo variações capitaneadas pela bateria de Kuusisalo.

“Five of Swords” foi a faixa escolhida para o videoclipe promocional. Ao contrário de muitas músicas de trabalho, não há sequer um sinal de melodias de teclados que possam remeter a algo mais acessível.

Na verdade, é onde os mares se mostram mais revoltos. “Cortesia” das passagens sutilmente densas e atmosféricas ao passar dos minutos – que voam à velocidade da luz, diga-se.

E por falar em mar, a cadência no início de “As the After Becomes the Before” é apenas mais uma maquiagem para novo ataque – por mais brega que seja escrever isso – de riffs e blastbeats.

A faixa título segue distante de dar descanso ao ouvinte: tão reta quanto as faixas anteriores, mas é a que melhor resume o …and Oceans de 2020. Todos os elementos abordados ao longo de sua história estão ali, incluindo futurismo industrial mesclado ao black metal tradicional e sinfônico.

“Helminthiasis” continua mais ou menos no mesmo padrão de intro mais ambiente para prepara-lo para nova chuva de extremismo. Já “Oscilator Epitaph” faz conexões indiretas com a cenas norueguesa e sueca, pegando o clima de uma e a velocidade de outra. Faixa das mais gélidas do disco.

“In Abhorrece upon Meadowns” é o momento de descanso do álbum, embora seu clima esteja mais para trilha de drama/suspense do que uma calmaria propriamente dita. Trata-se apenas da porta de entrada para a mega extrema “Apokatastasis”.

“One of Light, One of Soil” anuncia o desfecho com seus tempos e contratempos no carimbado prisma da rapidez. É uma das mais empolgantes, justamente por manter o peso, a raiva e, ainda assim, se valer de novas pegadas.

“The Flickering Lights” encerra de maneira épica e – me permitindo usar outro clichê – apocalíptica de sua cosmologia de 11 andamentos.

Mas o ponto mais importante em Cosmic World Mother está no fato de encontrarmos uma banda no seu auge; no que diz respeito a coesão, musicalidade e produção. Mesmo nos padrões do metal extremo.

Embora seja um estilo naturalmente limitado, a ala mais brutal do heavy metal vem, há anos, sofrendo com a mesmice de bandas sentadas na cadeira da zona de conforto – ninguém se arrisca, ninguém quer perder o pão de cada dia –, usando-se do mesmo estúdio e do mesmo produtor.

E para a sorte ou sagacidade do …and Oceans, o som da volta pode ser acusado de tudo, menos de parecido com lançamentos contemporâneos. Bola dentro para a Finlândia.

Ouça Cosmic World Mother na íntegra a seguir:

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